O primeiro gesto realmente firme do presidente Lula não foi uma canetada para criar algo, mas um assinatura para negar. Sim, senhoras e senhores, Lula decidiu vetar as mudanças na Lei da Ficha Limpa aprovadas pelo Congresso.
O projeto queria suavizar a vida de políticos condenados, encurtando o prazo de inelegibilidade. Traduzindo: reduzir a quarentena dos ficha-suja. Lula disse não, e disse não com a pose de quem encontra, depois de quase três anos de mandato, um freio de mão institucional para puxar.
O anticlímax do herói tardio
É curioso: um presidente que se consagrou prometendo transformações grandiosas estreia sua “firmeza” num ato de contenção. Não é criação, é interdição. Não é avanço, é bloqueio. Mas em Brasília, até um veto pode soar como épico.
Lula seguiu os pareceres da AGU e do Ministério da Justiça, que enxergaram risco de retrocesso no combate à corrupção. E, pronto, de repente temos um Lula justiceiro, vestindo a toga moral que raramente lhe cai bem.
Ironia das ironias. Ao travar a tentativa do Congresso de afrouxar a Ficha Limpa, Lula conseguiu algo raro, agradar parte da opinião pública. Afinal, no Brasil, saber dizer “não” é quase um ato revolucionário.
Se o Congresso derrubar o veto, Lula posa de paladino que tentou. Se mantiverem, ele ganha crédito por preservar um dos poucos instrumentos que a sociedade ainda respeita no combate aos maus políticos. Um jogo de perde-ganha em que, por acaso, o presidente saiu ganhando.
Portanto, brindemos. O primeiro gesto assertivo de Lula foi um não. Não à esperteza parlamentar. Não à flexibilização da moral. Não ao “jeitinho” travestido de projeto de lei.
É pouco? É. É tarde? Também. Mas no teatro da política brasileira, até um veto com gosto de limão pode ser servido como banquete.