No Visão Macro de hoje, vamos continuar o processo de análise específico sobre eventos globais afetando nossa economia local. Mais especificamente, queremos destacar o novo fortalecimento recente da moeda americana, vis-à-vis todos os seus pares, sejam moedas nominais de países desenvolvidos ou em desenvolvimento, como no caso do Brasil.
Os eventos de sexta-feira, no dia 10 de outubro, em que novamente se potencializa a guerra comercial entre Estados Unidos e a China, tiveram um recado muito claro. Talvez o posicionamento técnico e específico, principalmente na moeda brasileira, né, em relação ao dólar, isto é, apostando na queda da moeda americana em relação à nossa própria moeda, tenha chegado a um limite bastante relevante.
Isto é, a porta de saída parece que ficou pequena, e qualquer aumento de incerteza global, que reflui aqui de maneira mais vertiginosa, gera um processo de corrida por liquidez na moeda americana bastante relevante.
Não obstante, vimos algo acontecendo muito mais voltado ao peso do nosso idiossincrático local na sexta-feira do que simplesmente efeitos globais.
Perceba que, nesse mesmo dia, o DXY, ou seja, a cesta americana contra todas as grandes moedas — principalmente euro, moeda inglesa, a moeda do franco suíço e demais moedas — caiu.
E por que isso acontece, na margem? Porque, à medida que aumenta a incerteza contra a moeda americana, gera-se uma fuga para outras grandes moedas. Mas, embora outras moedas tenham se beneficiado, o Brasil não foi esse caso.
E por quê? Talvez pelo próprio posicionamento idiossincrático começando a fazer preço, né? No processo de entrada das eleições se avizinhando, quiçá já tenha começado de maneira bastante relevante, como temos discutido aqui, seja na visão da esquerda ou na visão da direita.
A questão é: o nível técnico de posicionamento das pessoas ou dos agentes no mercado, através de derivativos apostando na queda da moeda americana, somado ao idiossincrático muito mais relevante a partir de agora, tem chegado a um processo talvez de reversão.
E por que isso nos importa? Porque grande parte da convergência inflacionária que temos visto ao longo do ano tem muito a ver com uma parte específica da cesta do IPCA — isto é, alimentação no domicílio —, basicamente o processo que é mais afetado pela queda do dólar frente ao real e do qual temos nos beneficiado de maneira relevante.
Não só nesse ponto, mas também pela queda do preço das commodities em si. Lembremos: no caso da nova pauta exportadora brasileira, voltada ao petróleo, também vemos um risco bastante relevante para apreciação do dólar em relação ao real, por conta da queda muito mais forte do petróleo recente, seja pelo lado da oferta, seja pelo lado da demanda.
Isto é, quem exporta petróleo, no final das contas, quando o preço cai, não tem um resultado positivo olhando para a frente. Aqui deveríamos pensar em como isso tem nos afetado, também somado a todos esses novos eventos de aumento de incerteza.