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A arte de envelhecer em sintonia com o mundo

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(Foto: imagem gerada por IA / ChatGPT)

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Há um instante na vida em que o espelho deixa de ser o inimigo e passa a ser um velho cúmplice. Ele já não denuncia o tempo, apenas o revela. Envelhecer é isso: descobrir que as rugas são notas de uma música que só você entende. É uma arte, e como toda arte, exige delicadeza, ironia e uma certa teimosia em continuar dançando enquanto o mundo muda o ritmo.

Vivemos um tempo que parece feito sob medida para os jovens, rápidos, conectados, ágeis em deslizar telas e ideias. Mas há uma diferença entre estar em sintonia com o mundo e ser refém dele. O jovem, por impulso, quer acompanhar cada nova onda. O velho, por sabedoria, aprende a surfar apenas as que valem a pena. A juventude é volume; a maturidade é harmonia. E nessa orquestra desgovernada de apps, memes e modas instantâneas, o desafio é não desafinar, é continuar no compasso sem perder a própria melodia.

Há quem confunda envelhecer com desistir. Que erro primário. O tempo não é o ladrão dos sonhos, é o afinador deles. Ele tira o que é ruído e deixa o essencial vibrar. Envelhecer com sintonia é continuar curioso, disposto a aprender, não porque o mundo exige, mas porque o espírito pede. É entender um TikTok não para imitar um adolescente, mas para rir junto com ele. É usar a tecnologia não como muleta, mas como extensão do olhar. É reconhecer que o mundo não ficou rápido demais, nós é que agora o vemos com mais calma, e isso é uma vantagem, não um atraso.

A juventude quer respostas; a velhice entende que a beleza está nas perguntas. Quando se envelhece bem, aprende-se a valorizar o silêncio das manhãs, o sabor do café tomado devagar, o prazer de ouvir mais do que falar. Não se trata de isolamento, mas de uma forma mais sutil de conexão. Há quem diga que os mais velhos “ficaram para trás”; eu prefiro pensar que eles subiram um degrau. De lá, observam a pressa dos outros com uma ternura quase pedagógica.

Manter a sintonia com o mundo não é se vestir como ele, mas compreendê-lo sem se perder de si. É saber que as gírias mudam, mas a humanidade permanece. Que o amor continua sendo o motor, ainda que agora se declare por emoji. Que a vaidade pode ser um belo verniz, desde que não cubra o brilho da lucidez. E, sobretudo, é reconhecer que o tempo, esse artesão impiedoso, trabalha a nosso favor quando o deixamos fazer sua obra.

Há uma elegância em envelhecer com humor. É olhar para o próprio passado sem nostalgia amarga, e para o presente com uma curiosidade quase infantil. É rir da própria distração diante de um aplicativo novo, e se permitir a surpresa de descobrir um mundo que se reinventa, como nós. O envelhecer contemporâneo é, em certo sentido, um diálogo permanente entre a memória e o download. Guardamos lembranças como quem coleciona vinis, mas sabemos que há músicas novas para descobrir no streaming da vida.

A verdadeira sintonia não está em seguir o ritmo frenético das novidades, mas em saber compor com elas. Há beleza no contraste: a sabedoria do tempo e a ousadia do agora. Envelhecer, no fundo, é deixar que o corpo caminhe com mais calma enquanto a alma continua dançando.

E se o mundo parece correr, que corra. Nós, os que aprendemos o valor da pausa, sabemos que é no intervalo entre uma nota e outra que a música encontra o sentido. A arte de envelhecer não é resistir ao novo, é integrá-lo ao repertório, com ironia, com ternura, e com a firme convicção de que, enquanto houver curiosidade, ninguém envelhece de verdade.

Porque o tempo pode até tirar o fôlego, mas nunca o compasso de quem aprendeu a observar.

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Paulo Leite

Sociólogo e jornalista. Colunista dos programas Central 98 e 98 Talks. Apresentador do programa Café com Leite.

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