Se engana quem pensa que Minas Gerais é referência apenas na produção de queijos. Um presunto cru elaborado em Montes Claros, no Norte de Minas Gerais, conquistou o primeiro lugar na categoria Presunto cru do 1º Concurso Nacional da Qualidade de Cárneos, realizado durante o 1º Congresso Nacional de Serviços de Inspeção Municipal (Conasim 2025), em Guarapari, no Espírito Santo.
A avaliação foi feita às cegas por especialistas, que analisaram estrutura, textura, aroma e sabor sem identificação dos produtores. A iguaria foi produzida pela Charcutaria Sagrada Família, que está no mercado há cerca de 10 anos e tem uma parceria com o Núcleo de Estudos em Produção de Suínos da UFMG Montes Claros (Nepsui).
O produto premiado é feito com carne do chamado porco do cerrado, uma raça desenvolvida para se adaptar às condições do Norte de Minas e oferecer melhor rendimento e qualidade para embutidos. O animal é resultado do cruzamento entre Duroc e Piau, reunindo características como marmoreio, coloração adequada e boa performance para curas longas.
Segundo produtores, a criação desses animais busca atender tanto às demandas de manejo em clima de cerrado e semiárido quanto à produção de carnes mais adequadas para maturação prolongada. A camada de gordura mais espessa e estável, por exemplo, permite que peças como o presunto passem por processos de cura que chegam a 24 meses, com segurança e ganho de complexidade sensorial.
Outro fator decisivo é a alimentação. Nos últimos estágios de criação, os animais recebem castanha de baru, ingrediente típico do cerrado que contribui para aroma, sabor e qualidade da gordura.
A raça também se destaca pela preservação de linhagens nativas, como o porco Piau, valorizadas por produtores e consumidores que buscam carnes de origem mais tradicional. Para especialistas, esse tipo de manejo pode fortalecer alternativas de renda para pequenos criadores e ampliar a oferta de produtos artesanais de maior valor agregado.
O reconhecimento no concurso nacional é visto por produtores como resultado de anos de estudos e testes com carnes maturadas, iniciados ainda em 2014. A região, tradicional em carne de sol, linguiças e defumados, agora também começa a se destacar na produção de curados de longa maturação, como o presunto vencedor.
Com UFMG
