O ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, concedeu entrevista à 98 News nesta terça-feira (19/8) e falou sobre a situação da capital mineira, o transporte público, a política em Minas e seu futuro eleitoral. Durante a conversa, Kalil também rebateu condenações na Justiça e comentou possíveis alianças para 2026.
‘É muito cedo para avaliar a cidade’
Logo no início da conversa, Kalil foi questionado sobre sua visão da atual gestão da Prefeitura de Belo Horizonte. “É muito cedo porque é muito perigoso a gente avaliar uma cidade com um prefeito que entrou há poucos meses, que ainda era vice-prefeito, não nem se preparou numa campanha para colocar suas ideias, mas eu acho que Belo Horizonte tem um potencial muito grande, principalmente de melhora”, disse.
“Porque por ser um município confinado, Belo Horizonte é um município muito pequeno e muito confinado, eu acho que a partir de agora se começar essa proteção de encosta bem feito, aumento de vias, viaduto, porque nós não temos muita expansão. Então acho que os próximos prefeitos, sem nomear nenhum deles do passado e nem eu, têm que ter a perspectiva de uma cidade muito melhor, porque ampliada geograficamente é muito difícil.”
‘Entreguei uma cidade melhor do que eu peguei’
Ao ser lembrado sobre o legado de sua gestão, o ex-prefeito citou os desafios enfrentados.
“Olha, eu enfrentei alguns problemas que eu acho que não sei se hoje eu posso falar que é um privilégio, né? Pelo desafio, mas eu enfrentei uma pandemia e uma chuva nunca vista na história de Belo Horizonte. Então, eu não pude ficar muito tempo planejando embelezar e melhorar a qualidade de vida, né?”, pondera.
“Na época que eu fui prefeito, nós íamos se preocupar em salvar vidas. Mas eu falo que quando você é prefeito e vai para uma reeleição, você não acha nada, você tem o número na urna. E como prefeito com a maior votação da história dessa cidade, eu acredito que, de tudo que eu pude fazer, eu entreguei uma cidade melhor do que eu peguei.”
Críticas à “BH Dubai”
Sobre a ideia de verticalizar BH e flexibilizar a cidade urbanisticamente, Kalil disse que outras demandas devem ser prioritárias. “A cidade tem equipamento, capacidade, material humano, preparação para virar esta cidade assim meio cara de Dubai ou coisas dessa natureza?”, questionou o jornalista Guilherme Ibraim.
“Não. E eu acho que até escutei que já mudaram de ideia, né? Porque um prédio de 50 andares não começa na fundação do prédio, começa no metrô de dois pavimentos embaixo dele. Então isso, a gente vai falando no entusiasmo, né? Eu não tenho nada com o Damião, eu não preciso dele para porcaria nenhuma e não tô falando para agradar, porque nem telefonar para ele, eu telefonei depois que ele virou prefeito. Mas é muito bom você falar depois: ‘Opa, pera aí que isso aí não é bem assim’”, disse.
“Nós estamos falando de uma cidade que foi planejada, né? Nós estamos falando de um Dubai que eles estão entrando para dentro do mar, para ocupar o mar, né? Então, eu acho que um pouco de polícia na rua, um pouco mais de convênios com a polícia militar, um pouco mais de segurança, limpeza e altura de prédio a gente deixa para depois. Porque prédio é estrutura, não é o problema. O problema é o que vai ter que andar embaixo para não acontecer o Nova Lima 2, 3, 4, que eu considero tragédia 1, tragédia 2, tragédia 3, tragédia 4.”
Tarifa zero: ‘Não tem almoço de graça’
Sobre o debate da tarifa zero no transporte público, Kalil afirmou que o tema deve ser discutido, mas considerou a proposta inviável.
“Debate deve acontecer de todo jeito, né? Eu fui procurado pela Aura Carolina. Me ligou até não tem uma semana. Eu acho que não tem almoço de graça, alguém vai pagar esse almoço, né?”, disse.
“E se você está falando em pagar a tarifa, você vai ter que tirar ou do posto de saúde, ou da escola, da merenda, porque o dinheiro não vai brotar aqui. Então, eu acho que debater pode. Eu não acho que seja maldade conversar de nada. Maldade é conversar pornografia na frente de criança. O resto não tem maldade nenhuma de conversar de qualquer coisa.”
‘Para lidar com empresário, precisa de coragem’
Kalil também abordou os contratos de transporte público e disse que é preciso autoridade, moral e coragem para estebelcer conversas produtivas com o empresariado do transporte público.
“Cabe ao governante algumas coisas que precisam de autoridade e coragem. Sentar com o empresário de ônibus precisa de autoridade, moral e coragem. Eu sentei e sem pagar um tostão a mais entrou ar-condicionado, suspensão a ar, porque aqui senão não emplaca. Ponto”, explica.
“Foram 4 anos sem aumento porque tinha uma gordura para queimar. Ponto. Então, o contrato vai acabar, vai acabar. Agora, sem moral, sem o olho em cima, porque estranhamente a única hora da paz entre a Câmara Municipal de Belo Horizonte e a prefeitura foi na hora de dar subsídio para ônibus. Foi uma paz linda, linda, o presidente da Câmara com o prefeito. Estranhamente, né? Então, eu tô dizendo: para lidar com empresário, precisa de coragem. Tudo tem solução, mas precisa principalmente coragem.”
“Não tenho plano Kalil Republicanos”
Na parte política, Kalil negou que já tenha fechado acordo partidário visando as eleições de 2026.
“Não, não tem plano Kalil Republicano, não. Teve um plano que eu apoiei, um candidato que era do Republicano. Partido não vale nada em eleição municipal, principalmente em Belo Horizonte. Se não for lulista e não for bolsonarista apaixonado, vai concorrer com quem vai fazer melhor para a cidade”, aposta.
“Então, o meu plano político é de vir ao governo, né? Porque as pesquisas me ajudam nisso. Mas eu não tenho plano compartilhado nenhum e acho que, pelos números, eu não terei problema de partido. Mais uma vez vou poder escolher o partido que eu quiser.”
Sobre Lula, pesquisas e alianças
Kalil comentou ainda possíveis alianças e as pesquisas recentes. “Olha, isso é muito cobrado, sabe? Esse papo de se foi com o Lula é foda, porque isso aí é cobrado para burro. Eu fui porque eu quis. Ou porque tive alguns maus conselheiros que eu acreditei, mas eu quis”, lembra.
“Eu acho que nós estamos numa nova era. Eu acho que se eu precisava muito de me alavancar no estado, o resultado das pesquisas recentes foi que eu liderei. Mas eu quero ver pesquisa séria, não essas que confundem todo mundo. Eu quero um caminho de eu fiz. Fiz no Atlético, fiz na prefeitura e se for ao governo, faço lá também, porque eu sei fazer e já mostrei. Nós temos que parar com esse negócio de direita e esquerda. É igual no futebol: ganhou o quê? Então é mostrar o que fez.”
Críticas a Zema
O ex-prefeito também fez críticas diretas ao governo de Minas. “Tá mais endividado, né? Dobraram a dívida. Prometeu hospital que não entregou, prometeu uma malha viária despedaçada que tá aí e lançou uma candidatura. Com 6 anos de poder, ele podia ter feito um PowerPoint de tudo que fez em Minas Gerais. Então não foi feito nada. E nós sabemos que não foi feito nada. A grande dificuldade que o governador vai ter é que só tem o PowerPoint do Lula e do Pimentel. E aí não vai dar para ele ser eleito com PowerPoint.”
Condenações e processos
Kalil também respondeu às decisões recentes da Justiça. “Não foi retirado uma cancela de uma rua e pasmem, na pandemia. Belo Horizonte estava fechada. Essa cancela tá lá desde 2004 e foi retirada há 3 semanas. E o único que tem improbidade por não tirar uma cancela sou eu. Eu fico rindo porque isso aí não cai. É praticamente impossível. Ser banido da vida política por uma cancela que está há 20 anos no mesmo lugar”, disse.
Sobre outra denúncia, Kalil acrescentou: “Eles me chamaram para fazer um acordo, era só pagar um dinheiro lá no Ministério Público. Se eu pagasse 5, 10 mil reais, eu não ia sofrer um processo penal. E de todos, eu fui o único que não paguei. Porque eu não faço improbidade administrativa, acusação criminal eu não aceito. E a decisão foi unânime de que era improcedente o processo. Jogaram no lixo a denúncia do Ministério Público.”
Senado e alianças possíveis
Kalil não descartou outras possibilidades eleitorais. “O Senado, é claro que quem tá em primeiro ou segundo numa pesquisa para governo quer ser governador. Mas não há dúvida que há uma avenida para o Senado. Eu não sou apaixonado nem abraçado por nada. Eu converso qualquer coisa, mas o meu número não me permite hoje falar em Senado.”
Sobre nomes ventilados para o governo, Kalil disse: “eu tenho uma boa relação com todo mundo. Então eu não teria dificuldade em sentar com ninguém, desde que o interesse público esteja na frente. Isso eu não fiz em várias ocasiões e aprendi.”
“O que me assusta são os números”
Ao final da entrevista, Kalil falou sobre a motivação para seguir na política. “Eu acho que o que me assusta e assusta meus adversários são meus números. Eu assustei com meu número para governador. O último número que eu li é de 27%. Nós estamos falando no segundo estado da federação. Isso não é pouco. Para mim que não tô aqui todo dia dando entrevista e aparecendo, é muito expressivo. Então, o que me leva para a política é o seguinte: hoje, sentado em casa, 27% do povo mineiro acredita que eu posso dar solução nesse estado que tá quebrado, falido, liquidado, desgraçado e perdendo a segunda colocação no país.”