*Com colaboração do repórter Thiago Cândido
A estabilidade comercial brasileira foi colocada à prova com o início da aplicação de tarifas pelo governo dos Estados Unidos, liderado pelo presidente Donald Trump, sobre produtos de diversos países, incluindo o Brasil. No entanto, o que poderia ter sido um revés para a economia nacional transformou-se em um saldo positivo nas exportações totais, impulsionado por um posicionamento diplomático estratégico e o fortalecimento de parcerias já consolidadas, especialmente com a China.
A reportagem conversou com especialistas que analisaram o cenário econômico do “tarifaço” americano, que foi bem mais rigoroso sobre os produtos chineses, mas que também afetou as exportações brasileiras. A medida resultou em uma queda de 18% nas vendas para os EUA em agosto e setembro de 2025, em comparação com o mesmo período de 2024. Produtos como açúcar, tabaco e carne bovina foram os mais atingidos.
Apesar do desafio, o Brasil se destacou com uma atuação política e econômica coesa. Segundo Lucas Rezende, cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a postura do governo brasileiro foi a mais acertada, com foco no diálogo institucional e na defesa técnica da economia, em vez de uma retórica passional.

Essa estratégia de diálogo, inclusive, foi fundamental para um novo capítulo na relação bilateral, possibilitando a reaproximação entre os presidentes Lula e Trump, simbolizada pelo encontro na Assembleia Geral da ONU e conversas subsequentes. Rezende enfatiza que a postura profissional conduzida pelo Itamaraty foi crucial para essa abertura.
O Superávit Impulsionado pela China e Mercados Alternativos
O pulso firme do Brasil e a crise comercial global abriram caminho para um redirecionamento eficiente das exportações. Parcerias comerciais já estabelecidas foram fortalecidas, e a demanda de países como a China e o México ajudou a compensar as perdas no mercado americano.

A China, principal parceiro comercial, continuou sendo o motor do comércio exterior brasileiro. A relação bilateral, baseada na exportação de commodities (soja, minério de ferro, petróleo) em troca de tecnologia e fertilizantes, gerou um superávit histórico para o Brasil:

A reação amadurecida dos empresários brasileiros, em sintonia com a postura do governo, também foi fundamental. As ações para reverter quedas refletiram a defesa do diálogo e da economia, resultando em um desempenho geral positivo:

Para Maurício Mendes Dutra, empresário e economista especialista na relação Brasil-China, a instabilidade global “veio para ficar”. Ele vê a “crise” comercial como positiva para o mercado brasileiro, mas alerta para a necessidade de atenção à precificação.

Por outro lado, o especialista faz um alerta estratégico: o Brasil não deve permitir uma dependência excessiva da China. “Nós não podemos ficar mais do que 20, 25% da mão de um ‘player’ só, ou seja da China. Então esse é o nosso teto com a China’”, explica. A chave, portanto, é a diversificação de clientela. As exportações crescentes para o norte da África, com alta demanda por proteína animal, são um exemplo de que o Brasil já está
avançando nesse caminho, garantindo maior resiliência e novas oportunidades em um cenário global de constante tensão comercial.
Saiba mais: Em entrevista ao programa DeadLine da 98 News, Maurício Mendes analisa de forma global o panorama na relação entre Brasil e China e os impactos na balança comercial brasileira.