Celebrado nesta quinta-feira (31/7), o Dia do Vira-lata foi criado para quebrar preconceitos e dar visibilidade aos milhares de cães e gatos sem raça definida que vivem em abrigos ou nas ruas do Brasil. Apesar da resistência de muita gente em adotá-los, são animais dóceis e companheiros, como os que vivem há anos em abrigos de Belo Horizonte e região metropolitana, à espera de um lar.
Em meio à superlotação dos abrigos, falta de recursos e uma cultura que ainda valoriza mais os animais de raça, essa data se torna um importante instrumento de conscientização sobre a adoção e o respeito à vida animal.
Em Contagem, na Grande BH, o trabalho de buscar novos lares para animais abandonados é rotina na Cão Viver. A instituição atua há quase 22 anos e hoje abriga dezenas de cães e gatos, a maioria sem raça definida, que aguardam por um lar.

Segundo Mayara Silva, voluntária e diretora de Comunicação da associação, o abandono de vira-latas é um problema recorrente, reflexo de uma cultura que associa valor à raça do animal. Ela conta que a maioria das pessoas ainda preferem os animais de raça, deixando os vira-latas em último plano.
O perfil dos animais abandonados
A grande maioria dos animais acolhidos pela instituição são vira-latas de porte médio a grande, pelagem caramelo, preta ou amarela e, em muitos casos, marcados por traumas físicos e emocionais.
Segundo Mayara Barbosa, voluntária da ONG, o abandono tem múltiplas causas: desde problemas de comportamento até pura negligência. “A maioria dos casos de abandono é porque o animal está doente ou porque está ‘aprontando’ dentro de casa. Às vezes pegam o cachorro filhote e ele começa a destruir as coisas, aí a pessoa prefere abandonar. Ou até mesmo porque ele cresce, aquele animal fica grande e a pessoa não tem aquela paciência mais, ou acha que não tem um espaço adequado para o animal e abandona”, relata.
Ela também chama atenção para o descuido com a castração, que leva a situações de abandono de ninhadas. “Tem os casos das pessoas que não castram os animais e acabam deixando as cadelas darem aquela ‘fugidinha’, aí a cadela pega cria na rua, aí o tutor abandona a ninhada com a mãe junto.”
Mais do que relatar estatísticas, a Cão Viver guarda em seus corredores histórias que ilustram a luta pela sobrevivência e a espera por um lar para centenas de cães.
Histórias que resistem
O cachorrinho Valente é um exemplo. Ele vagava pelas proximidades da Cão Viver, onde frequentemente era visto por moradores e funcionários. Resgatado por uma voluntária, o cão chegou ao abrigo somente com uma das orelhas, e tinha a outra tomada por vermes.

(Cão Viver/Divulgação)
“Não sabemos se ele perdeu a orelha em uma briga com outros cães ou por crueldade humana”, conta Mayara. Recuperado, Valente segue esperando por uma família.
Outro símbolo da resistência é Maggie, a mascote da associação. Encontrada em 2017, em Ibirité, ela estava ensanguentada, com cicatrizes que indicam ferimentos causados por faca. Abandonada em uma área de difícil acesso, foi salva graças à divulgação nas redes sociais. A presidente da Cão Viver, Mariza Catelli, acolheu a cadela, que recebeu tratamento, doações e padrinhos. Maggie hoje vive bem e não está disponível para adoção.

Entre os felinos, a história mais marcante é a de Lord, o gato mais velho do abrigo que também só tem uma orelha. Aos 17 anos, o bichano vive na ONG há cerca de 15 anos. Apesar do tempo na Cão Viver, nunca foi adotado.

Como funciona o processo de adoção da Cãoviver?
1- Primeiramente, você deve escolher seu “futuro melhor amigo”: nossos albergados estão disponíveis para visitação no abrigo de terça-feira a sábado das 13h às 16h, mediante agendamento prévio através do Facebook @caoviver, Instagram @caoviverbh ou pelo WhatsApp.
2- Apresentar documentação básica (cópia de RG, CPF e comprovante de endereço) e uma colaboração de R$50,00 para ajudar com os cuidados. Lembrando que a adotante principal precisa ser maior de 21 anos.
3- Passar pela entrevista de adoção com um responsável da Cãoviver (esse procedimento é muito importante, pois é nesse momento que vamos conseguir te ajudar a saber se o seu escolhido é realmente o mais adequado para suas condições de tempo, espaço, companhia de outros pets etc).
4- Tudo certo com a adoção? Para sua segurança e a do pet, recomendamos levar uma guia com peitoral (cães) ou caixa de transporte (cães pequenos e gatos).
Como ajudar a Cão Viver?
A Cão Viver é uma associação independente, sem fins lucrativos, que não recebe repasses do governo e sobrevive graças à solidariedade de voluntários e doações. Para manter os cuidados com os animais, o abrigo aceita contribuições de diferentes formas: doações em dinheiro, itens para o bazar beneficente como roupas, calçados, utensílios domésticos e brinquedos, alimentos e medicamentos para cães e gatos, além de materiais de limpeza, insumos veterinários e produtos de escritório.
Quem preferir pode também participar da “moeda solidária”, doando pequenos valores de carteiras digitais ou promover uma “festa consciente”, trocando presentes por doações para o abrigo. As contribuições podem ser entregues diretamente na sede da associação, ou agendadas pelas redes sociais.