Muita gente afirma categoricamente que chope e cerveja não são a mesma coisa. E você, concorda? Bem, antes de seguirmos na explicação sobre diferenças ou não, vamos fazer uma primeira reflexão: escreve-se Chope ou Chopp?
Apesar da palavra chopp ser muito mais usada no mercado de bebidas, de acordo como Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, o termo correto é chope. A palavra chopp não existe oficialmente no idioma português.
Mas então, qual a origem da palavra chopp? Esse termo deriva de Schoppen, palavra alemã arcaica que era usada para se referir a uma medida de volume, um quartilho (medida de volume de Portugal), algo próximo de meio litro, que também era a medida de uma caneca de servir cerveja. Em francês a palavra Chope também significa caneca de cerveja e tem a mesma escrita adotada na Língua Portuguesa. Além disso, na língua francesa chope deriva de chopine, que correspondeà medida quartilho na Língua Portuguesa.
O emprego da palavra germânica schoppen provavelmente começou a ser usado por aqui quando chegaram os primeiros cervejeiros imigrantes alemães, no sul do país e no final do século XIX. Os operários brasileiros que trabalhavam nas fábricas junto com os estrangeiros, ao escutá-los falando o termo quando brindavam, podem ter interpretado aquilo como a própria denominação da cerveja tirada dos barris. Desde as primeiras fabricações da bebida no Brasil o termo também foi associado à cerveja fresca e de qualidade, tanto é assim que a palavra Chopp está escrita,há muitos anos, no rótulo de uma das principais cervejas da AmBev e gravado na memória de consumidores com o slogan: Brahma Chopp, a número 1.
Voltando ao tema principal da conversa, você já deve ter ouvido por ai que chope e cerveja não são a mesma coisa. Qual a diferença entre chope e cerveja, afinal? Existem dois pontos a serem analisados para se fazer essa diferenciação, o que diz a legislação brasileira e o que acontece na prática. Segundo uma norma do Ministério da Agricultura a expressão “chopp” ou “chope” é permitida apenas para a cerveja que não seja submetida a processo de pasteurização. Ou seja, quando a bebida passa pelo processo de pasteurização, ela é chamada de cerveja.
Um lembrete: pasteurização é um processo que utiliza calor para inativar microrganismos dos alimentos, eleva-se a temperatura da cerveja por volta de 65°C, a mantém nessa condição por alguns minutos e depois a resfria rapidamente. Em relação ao que acontece na prática existem vários aspectos que podemos observar como envase, carbonatação, prazo de validade, conservação, sabor, todos eles ligados diretamente ao que cada cervejaria adota como padrão. O mais comum é que a cerveja seja envasada em latas ou garrafas, enquanto o chope é acondicionado em barris de inox. Isso porque para realizar a pasteurização ganha-se tempo e praticidade se o envase for feito em recipientes menores.
Por outro lado, barril é ideal para preservar a qualidade do chopp pois é um vasilhame com melhor fechamento e maior proteção contra a luz, inimiga número um da bebida. O detalhe principal nesse aspecto é que o tipo de envase não é legalmente obrigatório para cerveja e chope, então é comum hoje em dia encontrar cervejarias artesanais vendendo “chopp” em garrafas e latas, e grandes cervejarias acondicionando cerveja (a bebida pasteurizada) em barril. Por conta dessa não obrigatoriedade quase toda grande cervejaria vende cerveja pasteurizada em barris, com o nome de chope, para serem tiradas “na pressão” nos bares e restaurantes.
O chope e a cerveja também diferem na quantidade de gás carbônico que possuem. Esse gás é produzido naturalmente na fase de fermentação da bebida, mas ele pode ser incrementado artificialmente. Esse artifício é usado, no caso do chope, para extrair o líquido do barril. E é por isso que o chope, ou cerveja no barril, é significativamente mais carbonatado do que a bebida engarrafada, e é por isso também que muitas vezes ele nos passa a impressão de ser mais leve e ter menos corpo que a cerveja.
Sem o processo de pasteurização, o chope preserva ao máximo os aromas naturais da bebida, mas também perde qualidade em pouco tempo, esse produto deve ser consumido o mais rápido possível e deve permanecer refrigerado. Por outro lado, no caso da cerveja em garrafa (pasteurizada), a conservação é bem mais longa, podendo assim ser estocada vários meses. Muitas pessoas acreditam que chopp não leva conservantes químicos na sua composição, isso só o fabricante pode garantir, a presença desses compostos não tem relação com o fato de ser ou não pasteurizado.
O processo de pasteurização altera efetivamente os atributos sensoriais da cerveja, sabores e aromas sutis e voláteis são perdidos nesse processo. Como a bebida pasteurizada tem maior validade o mercado acaba usando dessa permissão para manter esse produto mais tempo nas prateleiras, por consequência a bebida fica ainda mais tempo exposta à luz e calor antes de ser consumida, o que também diminui suas qualidades sensoriais.
Dito tudo isso o que podemos afirmar é que a diferença existe de verdade na legislação, cerveja é pasteurizada e chope não. No dia a dia temos a desvantagem de beber “cerveja pasteurizada” em formato de chope, das grandes cervejarias, mas temos a oportunidade de beber muito “chope não pasteurizado” em latas e garrafas de pequenos produtores artesanais.