A mineradora australiana Meteoric Resources obteve licença ambiental para instalar em Poços de Caldas, no Sul de Minas, o primeiro laboratório do estado voltado a testes de extração de terras raras, minérios estratégicos para a produção de tecnologia de ponta. O projeto piloto marca um passo importante para inserir Minas na corrida mundial por esses elementos, usados em setores como automotivo, aeroespacial, de energia e de eletrônicos.
Segundo a empresa, a unidade começa a operar ainda em outubro de 2025 e será responsável por validar processos de produção antes da construção da planta industrial definitiva, prevista para 2028, dentro do chamado Projeto Caldeira.
Planta piloto e capacitação local
O diretor de sustentabilidade da Meteoric, Éder Luiz Santos, explicou em entrevista à 98 News que o laboratório tem três objetivos: Mostrar que a companhia é capaz de produzir carbonato de terras raras com qualidade e baixo impacto ambiental, capacitar trabalhadores que futuramente atuarão na planta industrial e produzir amostras para clientes no Brasil e no exterior testarem o produto antes da fase comercial.
A planta piloto terá capacidade de até 2 kg de carbonato de terras raras por dia e empregará inicialmente 16 trabalhadores, já em processo de formação para a operação industrial de 2028.
Relevância geopolítica
Os elementos de terras raras estão no centro das disputas comerciais globais. A China concentra a maior parte da produção mundial e anunciou que deixará de exportar parte desses produtos para o Ocidente a partir de 2026. Isso abriu uma corrida por novas reservas em países como Brasil, Estados Unidos e nações da União Europeia.
“Estamos no meio da geopolítica mundial sobre terras raras. Poços de Caldas tem uma das maiores reservas do mundo, localizada em uma antiga caldeira vulcânica, o que facilita a extração com menor custo e menor impacto ambiental”, afirmou Éder.
Processo de extração
Diferente de operações como a do minério de ferro, que exigem explosivos, britagem e barragens de rejeito, a extração em Poços de Caldas se dá em argila iônica, material mais simples de processar.
Após escavação e transporte, o solo passa por separação química com sulfato de amônio, substância comum na agricultura. O resíduo é lavado e devolvido às cavas, sem a necessidade de barragens.
“Não haverá pilhas de estéril expostas nem cavas abertas ao fim da operação. A paisagem será semelhante à anterior”, destacou o diretor.
Perspectivas para Minas Gerais
A Meteoric possui cerca de 70 processos minerários na região e avalia expandir suas operações. A expectativa é criar um polo tecnológico no Sul de Minas para desenvolver e separar individualmente os 17 elementos de terras raras, agregando valor e mantendo no Brasil a cadeia de receita e impostos.
“Estamos negociando com governos e parceiros internacionais para trazer ao país a tecnologia de separação, o que pode colocar Minas Gerais na vanguarda mundial desse mercado”, concluiu Éder Luiz Santos.