A Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira (17/9) uma nova fase da Operação Rejeito, que investiga um dos maiores esquemas de corrupção e mineração ilegal já registrados em Minas Gerais. A ação, que conta com apoio do Ministério Público Federal, tem como foco organização criminosa acusada de operar lavra ilegal de minério por meio de fraudes, subornos e empresas de fachada.
Entre os principais alvos da operação estão mineradoras e holdings que, juntas, movimentaram centenas de milhões de reais com extração irregular de minério, segundo as investigações. A Justiça Federal apontou que o grupo usava “testas de ferro” e montava estruturas empresariais para lavar dinheiro e dificultar o rastreamento das atividades criminosas.
Principais mineradoras e empresas investigadas
As autoridades identificaram ao menos 42 empresas ligadas ao grupo investigado, com forte atuação no setor minerário. A seguir, os principais nomes citados na decisão judicial.
Mineradoras e holdings citadas
Mineração Gute Sicht Ltda: Empresa central no esquema. Teria iniciado lavra irregular com documentos falsos, inclusive em área protegida da Serra do Curral, na região metropolitana de Belo Horizonte.
Fleurs Global Mineração Ltda: Apontada como principal beneficiária do minério extraído de forma ilegal. Pertence ao empresário Alan Cavalcante.
Irontech Mineral Ltda / Irontech Mineração S/A: Envolvida na triangulação de valores usados na lavagem de dinheiro.
Mineração Patrimônio Ltda: Empresa beneficiada por licenças ambientais supostamente obtidas de forma fraudulenta com apoio de servidores públicos.
Prisma Mineração Ltda: Ligada à rede de empresas que serviam como contas de passagem para valores ilícitos.
MMF (Minas Minério de Ferro): Ligada ao grupo investigado, com atuação direta em áreas de interesse ambiental relevante.
ALCA Mais Mineração Ltda: Investigada por envolvimento em movimentações financeiras suspeitas.
AIGA Mineração S/A: Apontada como fachada para viabilizar projetos do grupo, com indícios de irregularidades nos atos constitutivos.
Além das mineradoras, a Polícia Federal identificou diversas empresas de participações e consultorias utilizadas para esconder a origem e o destino dos valores obtidos nas operações ilícitas. Dentre elas:
- Minerar Participações S/A
- ANHD Participações S/A
- KIP Participações Ltda
- ZFSS Participações S/A
- JN@JN Participações S/A
- IDTF Participações S/A
- Sigmapar Participações Ltda
- Per Capita Participações Ltda
- LFC Participações Ltda
As empresas estão sendo investigadas por crimes como organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, falsidade ideológica e crimes ambientais.
Licenças fraudulentas e propina
Segundo a decisão judicial, o grupo obteve licenças ambientais e autorizações minerárias com o apoio de servidores públicos corrompidos, especialmente de órgãos como ANM (Agência Nacional de Mineração), SEMAD-MG (Secretaria de Meio Ambiente de Minas Gerais) e IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
A estrutura criminosa envolvia setores político, administrativo, jurídico e operacional, com divisão clara de tarefas entre os integrantes. Os investigadores também apontam que houve articulações para influenciar decisões da Assembleia Legislativa de Minas Gerais em favor das mineradoras.
Documentos e provas
A investigação se baseia em provas colhidas por quebras de sigilo bancário, telemático e auditorias da Controladoria-Geral da União (CGU). Há mensagens trocadas via WhatsApp entre empresários e servidores, movimentações financeiras superiores a R$ 100 milhões e indícios de remessas disfarçadas por meio de empresas de fachada.