O cenário político mineiro acaba de ganhar um ingrediente decisivo. Confirmada a saída de Mateus Simões do Novo, partido ao qual deu visibilidade nacional como braço direito de Romeu Zema, o vice-governador desembarca ainda em outubro no PSD de Gilberto Kassab. A mudança não é apenas uma troca de sigla, é um movimento calculado que pode redesenhar alianças, embaralhar planos e criar tensões dentro e fora do tabuleiro mineiro.
O PSD é hoje uma das legendas mais cortejadas do país. No plano nacional, Kassab atua com pragmatismo cirúrgico. Negocia com governo e oposição, mas preserva o protagonismo regional. Em Minas, o partido abriga ninguém menos que o senador, Rodrigo Pacheco, aliado próximo de Lula e nome preferido do Planalto para a sucessão estadual em 2026.
A chegada de Simões ao mesmo partido abre uma interrogação: como conciliar o projeto lulista com o apadrinhado de Zema? É improvável que o PSD ofereça palanque confortável aos dois. O partido, até agora, vinha sendo uma aposta de Pacheco para voar com a máquina federal a seu favor. Com Simões, Kassab ganha uma carta alternativa, mais alinhada ao campo liberal-conservador e ao eleitorado de Zema.
O enigma Pacheco
Pacheco mantém silêncio sobre 2026. A proximidade com Lula é clara, mas sua disposição para enfrentar Zema ou seu herdeiro político em Minas ainda é dúvida. Fontes próximas ao senador relatam que ele avalia cenários em que poderia, inclusive, permanecer em Brasília. A entrada de Mateus no PSD fragiliza ainda mais esse cálculo. Pacheco pode ver seu espaço reduzido na legenda em seu próprio estado, a menos que Kassab consiga administrar dois projetos incompatíveis e improváveis.
No Novo, a decisão é pragmática. O partido, que já não esconde dificuldades de sobrevivência eleitoral, condiciona a saída de Mateus ao que poderá colher na montagem da chapa futura. A aposta é simples, se o vice for competitivo no PSD, abre-se uma janela para negociações que deem ao Novo algum oxigênio em 2026, seja em candidaturas proporcionais, seja em eventuais espaços numa administração simpática ao liberalismo. É, portanto, uma transição menos traumática e mais negociada do que pode parecer à primeira vista.
Em resumo, a ida de Mateus Simões para o PSD coloca três peças em xeque. Zema, que testa a musculatura de seu sucessor político fora do Novo. Pacheco, que precisa decidir se enfrenta o risco de ser engolido pelo próprio partido em Minas, e Lula, que vê sua principal aposta para o estado agora dividindo casa com o adversário.
A política mineira, repetindo o dito por Magalhães Pinto: É como nuvem, olha-se para o céu está de um jeito, olha-se novamente está de outro.