Presidente da Federaminas (Federação das Associações Comerciais e Empresariais de Minas Gerais), Valmir Rodrigues da Silva defende que o movimento associativista tem força para criar ambientes favoráveis para o desenvolvimento das empresas. Ele falou sobre a atuação e desafios da federação, além do cenário para o empresariado em Minas Gerais em entrevista na 98 News, nesta quarta-feira (28/5).
“A Federaminas, através das suas associações comerciais, tem feito um trabalho e ficou muito evidente esse trabalho. Tem uma história que fala que a notícia ruim corre rápido como forma de proteção das pessoas, por isso ela corre mais rápido que a notícia boa. A pandemia demonstrou isso de forma muito clara”, diz Valmir.
“Da mesma forma, um associativismo quando tem um problema, ele une mais as pessoas. O que a gente tem feito dentro desse propósito de mudar esse mindset, esse pensamento de nos unir só na dificuldade pós-pandemia? A gente tem procurado fazer alguns trabalhos mostrando a força que é o movimento associativista”, continua.
“Quando um empresário olhar para uma associação comercial, que ele enxergue não o que aquele local tem a oferecer, mas que ele enxergue como local de oportunidade para criarmos um bom ambiente para o desenvolvimento das empresas. Nós temos procurado trabalhar nesse sentido: mostrando para a microempresa que nós podemos ser o porta-voz, seja na dificuldade, seja para criar uma estratégia para desenvolvimento”, diz.
Instabilidade econômica e mais desafios
Para o presidente da Federaminas, a instabilidade econômica, a burocracia tributária e a informalidade ainda são os principais entraves enfrentados pelas micro e pequenas empresas no Brasil. Segundo ele, a imprevisibilidade do ambiente de negócios afasta investimentos e gera insegurança para quem deseja empreender.
“95% do hall de associados que estão dentro das nossas entidades são micro e pequenas empresas. E nós temos todos os segmentos, seja o agro, o serviço, o comércio ou a indústria. Eu acho que o que nos trava é justamente a incerteza”, aponta Valmir.
Contador por formação, ele usa a demonstração de resultado do exercício (DRE) para explicar o cenário. “Quando eu tenho um problema de saúde, o médico me pede um hemograma. No caso de uma empresa, é a DRE, não importa o tamanho. Na primeira linha eu tenho o faturamento. Depois vêm os impostos, os custos e as despesas. O que sobra é o que é do sócio. E se o que sobra é o que é meu, eu preciso de um ambiente que me dê condições de acreditar que vale a pena investir.”
‘Retorno tem que valer mais que aplicação’
Valmir explica que a falta de segurança jurídica e a carga tributária afetam diretamente essa conta. “O que a gente enxerga como dificultador do desenvolvimento são as decisões, muitas vezes monocráticas, que impactam o empresário que está arriscando para ganhar. O retorno tem que valer mais do que a aplicação financeira.”
Segundo ele, o risco de empreender no Brasil ainda é muito alto. “Quando eu aplico meu dinheiro, eu durmo e ele me dá retorno. Quando eu abro uma empresa, eu perco noites, finais de semana, vejo minha família ser afetada… e no fim, o que sobra é o que é meu.”
Outro ponto levantado por Valmir é a desigualdade entre empresas formais e informais. “O Brasil ainda é incipiente na fiscalização. Nós ainda temos negócios informais e, com isso, o formal sofre mais.” Ele afirma que as micro e pequenas empresas têm ainda mais dificuldades de competir no mercado por comprarem em menor volume e enfrentarem custos trabalhistas proporcionais mais altos.
“Às vezes, ainda ouvimos que empresário escraviza colaborador. Mas hoje o mundo é outro. Se a empresa não encantar o colaborador, ele não vem. Temos mais dificuldade de contratar do que de encontrar vaga”, afirma.
‘Ser empresário em Minas Gerais hoje tá valendo a pena’
Apesar das dificuldades, Valmir reconhece avanços recentes na legislação e no ambiente regulatório mineiro. “Alguns anos atrás eu vi uma pesquisa na revista Exame que dizia, na visão das pessoas, qual o principal motivo de existência de uma empresa. Para o meu susto, o resultado foi que era ‘fazer ações sociais’. Não! O empresário, primeiro, precisa ganhar dinheiro para depois entregar políticas sociais.”
Segundo ele, Minas Gerais tem sido exemplo positivo de um ambiente mais favorável ao empreendedor. “O governador Romeu Zema trouxe a Lei de Liberdade Econômica como o DNA do seu governo. Recentemente, o professor Mateus Simões, nosso vice-governador, lançou o novo decreto Minas Livre Para Crescer, elevando para 915 atividades de baixo risco que tiram a obrigatoriedade do alvará. Isso é 72% dos CNAEs em Minas Gerais.”
Para Valmir, esse tipo de iniciativa traz impacto direto na confiança de quem quer abrir ou expandir um negócio. “Quando eu trago isso para o cenário de Minas Gerais, eu vejo que é uma boa evolução. Ainda temos que caminhar, mas ser empresário em Minas Gerais hoje tá valendo a pena, tanto que isso está repercutindo na atração de investimentos.”
“Eu falo isso com muita propriedade, porque sou vice-presidente financeiro da CACB, da confederação em Brasília, e a gente observa que o cenário em Minas tá diferente. Por isso que o estado cresceu 0,8% na participação da economia do país. Investir em liberdade para empreender, investir em liberdade para trabalhar é o caminho. Pena que nem todos conseguem visualizar isso”, diz ele.