O número de empresas inadimplentes em Minas Gerais bateu recorde em maio deste ano. Segundo levantamento da Serasa Experian, 28% dos negócios no estado estão negativados — o maior percentual já registrado. O cenário reflete uma combinação de juros elevados, consumo retraído e desaceleração econômica.
Para entender os impactos dessa crise e os caminhos para atravessar o segundo semestre, a 98 News conversou nesta segunda-feira (21/7) com a economista da Serasa Experian, Camila Abdelmalack.
Juros altos e consumo em queda pressionam empresas
“Quando observamos a situação de inadimplência para Minas Gerais, acabamos associando de forma geral ao que está acontecendo no Brasil como um todo. A justificativa para esse aumento da inadimplência, não só em Minas, mas também no restante do país, é a elevação da taxa de juros”, afirmou Camila.
Atualmente, a taxa Selic está em 15%. Segundo a economista, esse patamar tem dificultado o acesso ao crédito, especialmente para micro e pequenas empresas, que representam a maioria dos negócios inadimplentes no país.
“Estamos falando, quando observamos o quadro para o Brasil, de 7,7 milhões de empresas inadimplentes, sendo que 7,3 milhões são micro e pequenas empresas. Um percentual elevadíssimo”, destacou.
Pequenos negócios são os mais afetados
De acordo com Camila, empresas de menor porte enfrentam mais barreiras para acessar crédito em um cenário de juros altos e bancos mais cautelosos.
“Muitas vezes, essas empresas não têm tantas garantias para o credor. E isso, num ambiente de taxa de juros elevada, afeta ainda mais o pequeno porte. As instituições financeiras estão mais cautelosas na concessão de crédito, justamente olhando para essa disparada da inadimplência.”
Impacto também atinge grandes empresas
Empresas de médio e grande porte, que buscaram crédito no mercado de capitais durante o ciclo de crescimento recente da economia, também estão sentindo os efeitos da Selic alta.
“Nós observamos as empresas em geral, desde 2021, se alavancando bastante com o uso do crédito. Isso porque a economia veio crescendo acima da média desde 2020. Agora, para 2025, é esperado que o PIB cresça ao redor de 2%, abaixo da média histórica.”
“Essas grandes empresas emitiram dívidas para financiar suas operações atreladas à taxa Selic ou ao CDI. Agora, com esse patamar em 15% e a sinalização do Banco Central de que a taxa permanecerá elevada, isso deve afetar bastante.”
Planejamento e gestão no dia a dia
Com a expectativa de desaceleração econômica e juros altos prolongados, Camila recomenda que as empresas invistam em gestão e planejamento financeiro.
“O que podemos fazer de melhor nesse momento é trabalhar com os números, olhar para dentro, para o fluxo de caixa, entender como a empresa será impactada e enxugar a estrutura de custos.”
Ela alerta que planejamento isolado não é suficiente. “Não basta ele estar feito ali na planilha de Excel se não for acompanhado ao longo do tempo.”
Tarifas e impostos agravam o cenário
A economista também comentou sobre os efeitos de medidas recentes, como a taxação de exportações brasileiras pelos EUA e a decisão do STF sobre o IOF nas operações de crédito.
“As empresas também sentirão o impacto se realmente for para frente toda essa questão da tarifação das exportações brasileiras. E na semana passada, acompanhamos a decisão do Supremo Tribunal Federal em relação ao IOF, que irá deixar as operações de crédito ainda mais caras.”
Onde buscar ajuda?
Camila destaca que existem canais de suporte disponíveis para os empreendedores enfrentarem esse momento desafiador.
“Hoje em dia temos muitas plataformas que oferecem apoio gratuito, como o Sebrae. A própria Serasa Experian tem um hub de conhecimento para os micro e pequenos empreendedores. Um suporte é essencial para atravessar esse momento.”