Não é à toa que, quando o assunto é café, os olhos se voltam para Minas Gerais. A cada quatro xícaras de café consumidas no mundo, uma tem origem mineira. Mas, apesar do protagonismo, Minas não caminha sozinha. Nas últimas décadas, outros estados vêm ganhando espaço e se consolidando como potências no cenário da cafeicultura brasileira.
Uma mostra dessa corrida de outros Estados para “destronar” Minas Gerais vem do vizinho Espírito Santo. No prêmio Coffee of The Year, que ranqueia os principais cafés do ano no país, o Estado conquistou 8 dos 10 primeiros lugares no cultivo de arábica. De quebra, conquistou um título na corrida pelo canéfora, vencida pela Fazenda São Bento da cidade capixaba de Santa Tereza.
O Espírito Santo é hoje o segundo maior produtor de café do país, responsável por cerca de 30,9% da produção nacional. A cafeicultura é a principal atividade agrícola capixaba, que conta com mais de 75 mil propriedades rurais dedicadas ao cultivo.
A força do setor se reflete principalmente nas exportações: entre janeiro e outubro deste ano, 3,7 milhões de sacas de café foram embarcadas pelos portos capixabas. O café do estado chega a 89 países, consolidando o Espírito Santo como um dos principais exportadores do grão brasileiro.
O destaque absoluto é o café conilon, variedade que garante ao Espírito Santo a liderança nacional na produção desse tipo de grão. O conilon representa cerca de 38% do PIB agrícola estadual e tem se tornado referência em qualidade e sustentabilidade.
Entre os produtores que apostam em novos caminhos está Fabrício Campos, sócio da Fazenda Giori, que cultiva café orgânico e biodinâmico. “Nós aderimos a uma filosofia de produção que leva em consideração a saúde do solo, a saúde das plantas, a saúde do próprio produtor e dos consumidores, criando um café não só ajuda o meio ambiente mas também tem uma excelente qualidade”, explica o produtor.
Além da tradição e da força produtiva, o estado também abriga um dos cafés mais exóticos do mundo: o Café do Jacu, conhecido por seu processo natural e singular de fermentação. a partir dos grãos extraídos das fezes do pássaro Jacu.Após a coleta dos grãos eliminados naturalmente, o produto passa por um cuidadoso processo de limpeza e torra, resultando em um café raro, de sabor único e um dos mais caros do mundo.
Bahia
A Bahia é o maior produtor de café do Nordeste e o quarto do país, com cerca de 133 mil hectares dedicados ao cultivo. O estado vive um momento de expansão: segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra 2024/2025 deve crescer 20% em relação ao ciclo anterior.
A produção se concentra em quatro regiões principais — Planalto da Conquista, Chapada Diamantina, Sul da Bahia e Serra do Espinhaço —, cada uma com características próprias de solo, clima e altitude que influenciam diretamente no sabor e na qualidade dos grãos.
No Planalto da Conquista, produtores, agências de turismo e comunidades locais estão unindo esforços para criar uma rota de cafés especiais, iniciativa que alia o turismo rural à valorização da produção regional.
Entre os participantes está o produtor Idimar Barreto, dono da Fazenda Ouro Verde, que abriu as porteiras da propriedade para receber visitantes e mostrar de perto todas as etapas da produção. “Nós temos uma janela de visitas que vai de maio a setembro, quando temos a colheita. Nessa época o visitante tem a chance de ver como é produzido nosso café até chegar nas cafeterias”.
O setor cafeeiro baiano gera cerca de 100 mil empregos diretos e indiretos e uma produção anual de aproximadamente 2 milhões de sacas de 60 quilos. A força do café baiano se divide entre as duas principais variedades cultivadas no estado: o arábica e o conilon, que juntos consolidam a Bahia como um dos polos mais promissores da cafeicultura brasileira.
Rio de Janeiro
A produção de café é uma das principais atividades agrícolas do Rio de Janeiro. O destaque fica para a região Noroeste Fluminense, responsável por 85% da produção de café do estado. Segundo a Embrapa, o valor bruto de produção estimado para 2025 é de R$818,68 milhões, o que representa cerca de 0,9% do total da Região Sudeste.
Nos últimos anos, o estado tem apostado na valorização dos cafés especiais como estratégia de crescimento e diferenciação no mercado. Um exemplo é o produtor Alexandre Ramos, da Fazenda Cachoeira, que representa a sexta geração de uma família dedicada ao cultivo do café desde o século XIX. “São quase duzentos anos produzindo café de qualidade. Uma produção artesanal e familiar, no terroir do Rio de Janeiro, um café ainda pouco conhecido, mas de extrema qualidade.”
Para fortalecer ainda mais o setor, o estado conta com o Selo de Qualidade do Café do Rio de Janeiro, criado pela Emater-Rio. O selo reconhece e valoriza cafés produzidos localmente, com foco em qualidade, sustentabilidade e inserção de mercado.
Com novas regiões ganhando destaque e produtores investindo em qualidade e inovação, o Brasil consolida cada vez mais seu papel de protagonista na produção de café.
