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A quem serve a prisão de Bolsonaro?

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É inevitável perguntar: a quem interessa a prisão de Bolsonaro? (Valter Campanato/Agência Brasil)

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Há momentos na política brasileira em que a cena parece menos um capítulo institucional e mais um ato teatral ensaiado em bastidores que o público não vê. A prisão de Jair Bolsonaro cai exatamente nesse território nebuloso, não apenas porque envolve o maior líder conservador do país, mas porque expõe, com clareza desconfortável, as entranhas de um sistema que hoje funciona sob uma lógica paralela, uma lógica de “poder sem voto” e influência sem transparência.

É inevitável perguntar: a quem interessa a prisão de Bolsonaro?

E a resposta, por mais indigesta que seja, não está apenas no que Bolsonaro fez, mas principalmente em quem move o tabuleiro quando as luzes do palco se apagam.

Há, hoje, um grupo que governa o Brasil a partir das sombras. Ele não aparece em fotos oficiais, não disputa eleições, não dá entrevista. É um bloco formado por parte da elite do Judiciário, por advogados de mentalidade progressista com trânsito direto no Palácio do Planalto, por operadores políticos que preferem trabalhar sem holofotes, mas com uma capacidade impressionante de definir rumos, impor agendas e criar fatos consumados. Um establishment judicial-político que opera como se o país fosse seu laboratório.

Lula, dentro desse arranjo, está longe de ser o grande estrategista. Ele é parte da engrenagem, uma peça importante, claro, ativa, viva, esperta, mas ainda assim uma peça. Uma marionete experiente que conhece os truques do jogo, se diverte com eles, abusa deles, mas não controla a mão que movimenta os fios. O governo Lula é beneficiário dessa estrutura, mas não seu cérebro.

A prisão de Bolsonaro encaixa-se com perfeição nesse projeto de fortalecimento de um sistema jurídico que vem se fechando sobre si mesmo. Ela cria um marco, abre um precedente, eleva a régua de controle e endurece o ambiente político. E, de maneira conveniente, faz tudo isso a partir de um personagem real, com falhas reais, com escolhas politicamente desastrosas que permitem que o grupo não apenas aja, mas aja com verniz de legalidade.

Porque também é verdade: Bolsonaro entregou munição.

A tentativa de desarmar a tornozeleira com um ferro de solda, registrada em vídeo e admitida por ele, é crime. Ele não é vítima nessa história. Ele é cúmplice de sua própria tragédia, autor de sua autossabotagem. A família Bolsonaro, com sua coleção de bravatas e contradições, não ajuda. Pelo contrário: alimenta o clima de instabilidade que hoje favorece exatamente quem deseja ampliar sua influência sem prestar contas ao eleitor.

Mas reconhecer o erro de Bolsonaro não deve nos tornar cegos ao que está por trás da cortina. O problema do Brasil não é apenas um ex-presidente que se descontrola, é um sistema inteiro que se acostumou a operar no limite do aceitável, ampliando poderes, reduzindo transparências e transformando decisões judiciais em atos políticos.

Essa prisão não apazigua o país.

Ela não pacifica.

Não devolve estabilidade.

Pelo contrário: aprofunda a polarização, radicaliza os extremos, empurra o Brasil para nova temporada de insegurança jurídica.

O grupo que realmente comanda o jogo, essa cúpula informal, essa elite sem voto, esse bloco togado-partidário, sai fortalecido. Lula sai mais dependente. E Bolsonaro, com sua imprudência, entrega o argumento final para um Judiciário que já vinha testando suas fronteiras.

O Brasil, mais uma vez, fica no meio desse incêndio político,  entre a autodestruição de um líder e a ambição de um sistema que opera cada vez mais sem freios e contrapesos.

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Paulo Leite

Sociólogo e jornalista. Colunista dos programas Central 98 e 98 Talks. Apresentador do programa Café com Leite.

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