O teatro pré-eleitoral de 2026 em Minas Gerais acaba de ganhar um novo ato e, ao que tudo indica, o roteiro privilegia os interesses da próxima novela brasileira: as eleições de 2026. O senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) convidou Gabriel Azevedo (MDB), ex-presidente da Câmara de BH, para ser seu vice na disputa pelo Palácio Tiradentes. Um convite formal, mas repleto de informalidades políticas.
Cleitinho, que adota o figurino de “homem simples do povo” enquanto circula por gabinetes com algumas das figuras mais experientes do centrão mineiro, parece ter entendido que não basta carisma em tempos de polarização e fragmentação: é preciso montar um mosaico eleitoral. E quem melhor para preencher essa lacuna do que Gabriel, um político urbano, bem articulado nas redes, com conhecimento técnico de gestão pública e trânsito entre a classe média e os formadores de opinião?
Porém, nesse aceno há um problema estrutural. Cleitinho e Gabriel representam, em essência, espectros políticos distintos, quase antagônicos. Um vem do populismo conservador de raiz religiosa e retórica de auditório. O outro, de uma tradição mais liberal e acadêmica. Juntar os dois é como tentar colar água com farinha: pode parecer coeso à primeira vista, mas desmancha na menor tensão.
A tentativa de Cleitinho de manter o discurso “despolitizado” enquanto articula alianças partidárias com Republicanos, Progressistas e agora o MDB expõe sua contradição central: a política do “não político” já não se sustenta. A cada movimento, ele se revela mais como produto típico do sistema do que como alternativa a ele. E isso não é uma crítica moral, mas uma constatação pragmática. Quem quer governar Minas precisa costurar apoios, fazer concessões e mostrar consistência ideológica, ainda que mínima. Nada disso está claro por ora.
Já Gabriel Azevedo continua dizendo que seu “grande compromisso é com Belo Horizonte”. Porém, por trás disso, há um leque de opções que revela ambição, mas também incerteza.
Nos bastidores há quem diga que a movimentação tem cheiro de balão de ensaio: testam-se nomes, medem-se impactos, buscam-se alianças improváveis em nome de um capital eleitoral que, até agora, vive mais da memória do que de um projeto claro para Minas Gerais.
No fim das contas, o eleitor mineiro quer um plano para governar um estado que vive sob pressões fiscais, desafios de infraestrutura e profundas desigualdades regionais. Fazer aliança sem programa é como construir casa sem alicerce: cai com o primeiro vento.
O convite de Cleitinho a Gabriel pode ser lido como oportunismo eleitoral. Mas falta-lhe ainda o que realmente importa: propósito, consistência e projeto de futuro. Sem isso, a chapa pode até ir para o segundo turno, mas, por conta da mistura que a compõe, chegará ao governo sem saber o que fazer com ele.