Não sou o mais talentoso dos seres humanos quando o assunto é velório. Desde criança, não me sinto bem. Mas, quando vou a um velório, me coloco frente a frente com a finitude. Às vésperas de completar setenta anos, descubro-me fazendo a conta de subtração dos meus anos de vida, e nisso não há nada de mórbido, mas sim o necessário confronto com as minhas realizações e aspirações na vida.
Estava eu no saguão da prefeitura da capital, velando o corpo do prefeito Fuad Noman, pensando em quão interessante é o processo de viver, no seu caminho natural rumo à morte, quando me veio a seguinte questão: Como será a BH pós-Fuad?
De uma carreira construída nos bastidores, em cargos de planejamento e gestão no serviço público, até a construção de uma imagem pública, um ser político, Fuad esteve ligado à história contemporânea do Brasil, de Minas e de Belo Horizonte.
O que aconteceu durante a despedida de Fuad foi a demonstração inequívoca do quanto ele se transformou e quão grande ficou sua história política. Milhares de pessoas foram até a sede da prefeitura para poder velar Fuad Noman. Ele, que entrou para a última eleição municipal como o candidato menos conhecido entre todos os que disputavam o pleito, mesmo já sendo prefeito, terminou o segundo turno sendo eleito com 56% dos votos.
A população de Belo Horizonte estava ali muito mais para velar o ser humano que conheceu nas eleições do que o político que se elegeu prefeito.
Porém, agora a cidade terá que seguir seu curso e corrigir a rota de organização de uma cidade que vem se deteriorando.
Nossa cidade tem que ser urgentemente repensada.
Eu não nasci em Belo Horizonte. Cheguei aqui no final dos anos 1970 e me transformei em belo-horizontino de corpo e alma. Em todo aniversário de Belo Horizonte, dedico meu amor e minha poesia para esta cidade que aprendi a gostar cada vez mais. Eu tenho dois filhos em Belo Horizonte, eu tenho um amor em Belo Horizonte, eu tenho amigos em Belo Horizonte, eu tenho uma vida traçada, desenhada pelas montanhas dessa cidade.
A minha expectativa é que Belo Horizonte vire a chave, saia daquele modelo provinciano, arcaico, que se perde no diálogo entre o moderno e o tradicional, e que ela perceba a necessidade de estar em plena sintonia com os que vivem nela.
Belo Horizonte é viva, carrega uma arquitetura característica, tem um povo que esbanja charme e alegria, mas que anda cansado de andar por uma cidade maltratada, sem planejamento urbano, sem projetos verdadeiros de mobilidade e de zeladoria.
Uma Belo Horizonte que tem uma prefeitura que ainda vive perdida em velhos processos burocráticos, que não percebe a necessidade dos que aqui querem empreender, com um Código de Posturas que tem que ser revisto pela Câmara de Vereadores.
O cidadão tem que ter orgulho de andar por ruas limpas, que não cheirem a xixi e a cocô, com suas calçadas bem tratadas, com suas ruas e avenidas com bom pavimento, com canteiros sem mato, sem entulho e sem lixo jogados no seu entorno. Escolas, postos de saúde, equipamentos de lazer…
Essa é a Belo Horizonte que a gente quer. Uma cidade acolhedora, com a cara da nossa casa, da Savassi ao Ribeiro de Abreu.
E é essa a expectativa que agora recai sobre Álvaro Damião, com quem tive o prazer de uma longa conversa.
Sempre conversei com o Álvaro profissional de comunicação, colega de profissão. Eu jamais imaginei Álvaro prefeito da nossa cidade.
Na conversa que tivemos, vi um Álvaro ponderado, buscando encontrar caminhos para os seus novos desafios. Uma fala dele me chamou a atenção. Ele disse: “Olha, Paulo, eu não posso chegar destruindo. Tenho que ver e entender o que eu tenho nas mãos.”
Ele lembrou que boa parte do que foi decidido e escolhido foi feito por Fuad, e em determinado momento falou: “Não posso desrespeitá-lo, tenho que entender seus desejos e seus projetos e, a partir disso, buscar uma forma minha, um jeito meu.”
Nas mãos de Álvaro estão depositadas nossas esperanças. Que ele, com o conhecimento que tem da realidade de Belo Horizonte, conduza as mudanças que todos esperamos.
Nunca é demais desejar a mudança. Sempre é hora de querermos o melhor.