A aprovação do aumento do vale-refeição para os servidores da Câmara Municipal de BH — agora também extensivo aos vereadores — é indigesta para os contribuintes e imoral.
Foi aprovado em segundo turno um projeto “jabuti” que trata da remuneração dos vereadores e servidores da capital e que, de maneira sorrateira e oportunista, inclui o aumento do vale-refeição dos servidores, estendendo esse benefício também aos vereadores.
O que poderia ser considerado apenas lesivo ao bolso dos contribuintes vem carregado de imoralidade.
O vale-refeição foi aprovado em dois turnos a toque de caixa, com votação em dois dias — um recorde que poderia se tornar padrão para as demais votações na Câmara.
No segundo turno, o projeto foi colocado em votação sem qualquer manifestação dos vereadores presentes em plenário. O resultado foi de 37 votos favoráveis e apenas três contrários — os dos vereadores do Novo, Fernanda Altoé, Marcela Trópia e Braulio Lara.
Acontece, porém, que anexo à Câmara funciona o restaurante popular, que serve refeições a R$ 3,00 (três reais) e é reconhecido por sua alimentação de qualidade.
Por que vereadores e servidores não podem utilizá-lo? Seriam os tecidos do aparelho digestivo deles feitos de matéria distinta dos da população?
O presidente da Casa, vereador Juliano Lopes, ao ser questionado sobre o aumento do vale, fez uma comparação no mínimo duvidosa com os valores dos vales-refeição dos servidores do Tribunal de Justiça do Estado e do Ministério Público, semelhantes aos que a Câmara passará a pagar. Só que essa equivalência é falsa, pois trata-se de órgãos distintos de uma casa legislativa.
Se fizermos a comparação com os valores dos vales-refeição de outras casas legislativas, veremos a discrepância dos valores estabelecidos pelo projeto. Os servidores do Senado recebem R$ 1.460,41, os da Câmara dos Deputados R$ 1.393,11 e os da Assembleia de Minas R$ 986,45.
Já passou da hora de uma imediata sintonia da Câmara Municipal com a vida real dos seus munícipes. São raras as empresas privadas que fornecem vales com valores iguais aos da Câmara — com a diferença de que o dinheiro que remunera as atividades do Legislativo não é propriedade dos senhores vereadores, mas sim dos impostos pagos pelos cidadãos, que, a rigor, são os verdadeiros patrões de todo servidor público.
Estranho o silêncio dos vereadores do campo progressista da Casa, que tradicionalmente bradam contra os privilégios vistos pela sociedade, e dos conservadores, que costumam apontar o dedo para a gastança do governo federal e sua irresponsabilidade fiscal.
Sabemos, entretanto, que a falta de vergonha na cara dos políticos não lhes permitirá coerência nem retidão no trato com o dinheiro do contribuinte. Mas vergonha na cara não é artigo que pode ser comprado com o vale-refeição.