A China já experimenta a vida na ponta instável do trabalho flexível, e esse experimento é, para o mundo, um espelho inquietante. Estima-se que 200 milhões de chineses, ou cerca de 40% da força urbana, vivam em empregos temporários ou rotineiramente trocados. Desses, 84 milhões atuam por meio de plataformas digitais.
Imagina assim: uma cidade em que metade das ruas é ocupada por entregadores, moto-táxis e freelancers que respondem a aplicativos. Imagine fábricas que recrutam pessoas por dia e não por contrato. Esse é um cenário que pulsa na China. Estima-se que 40 milhões de trabalhadores industriais operem com contratos temporários, deslocando aquele modelo antigo de estabilidade sobre os ombros da linha de produção.
Esse fenômeno tem um rosto duplo. Para alguns, é uma chance renovada. Pessoas que perderam empregos formais migram para esse universo sob demanda, muitas vezes encontrando rendas até 20% maiores. Para outros, é um desamparo estruturado — sem direitos trabalhistas, sem aposentadoria, sem previsibilidade. Quem vive dessa instabilidade depende de sorte, saúde e adaptação constante. Empreendedorismo, sabe como é que é?
O ponto de alerta é global. Se a maior economia mundial já reposiciona grande parte dos seus trabalhadores nesse tabuleiro incerto, não há mercado imune. Governos vão precisar pensar em uma espécie de aposentadoria portátil, na regulação de algoritmos, em programas massivos de requalificação e em sistemas de seguro que acompanhem trajetórias fragmentadas. Só assim o trabalho flexível vai deixar de ser uma armadilha.
O futuro do trabalho vai ser menos sobre contratos longos e mais sobre reputação, habilidade de se colocar e navegar fluxos incertos. Quem conseguir operar nesse meio vai ser quem vai decifrar novos ganhos — um novo equilíbrio entre autonomia e segurança.