Uma preocupação geral com a transição energética está associada ao objetivo de o mundo parar de queimar combustíveis fósseis para conter a crise do clima e ao fato de que a energia renovável que vai substituí-los requer grande volume de minerais estratégicos. Isso se apresenta como uma grande oportunidade para o setor, considerando que o solo brasileiro contém, em volumes consideráveis, cinco dos doze desses minerais.
Transição é um processo, uma jornada que tem o tempo como referencial. Pode ser lenta, rápida, levar décadas.
O relatório “Transição Net Zero”, elaborado pela consultoria americana McKinsey em 2022, aponta que “o custo global para realizar a transição para uma matriz energética limpa até 2050 é de 275 trilhões de dólares, ou 9,2 trilhões de dólares anuais.”
Cerca de 80% de nossa matriz de geração elétrica é composta por fontes renováveis. Entender os conceitos que tratam da descarbonização é fundamental para saber o que devemos fazer.
Para discutir esse tema, foi realizado, em São Paulo, no dia 26 de março, o evento “Descarbonização no contexto atual: oportunidades para o setor mineral?”, organizado pela Revista Brasil Mineral em parceria com o escritório Mattos Filho, a AP Consultoria e o escritório Caputo, Bastos e Serra Advogados.
Participei do evento como Diretor de Meio Ambiente e Relações Institucionais da SAM Metais. A seguir, destaco alguns pontos da matéria produzida pela revista.
O evento foi aberto com uma palestra de Wilson Brumer, membro do Conselho de Administração da Companhia Brasileira de Lítio e ex-secretário de Desenvolvimento Econômico de MG, que abordou o tema “Contribuição da Cadeia Mineral para a Descarbonização da Economia”. Ele pontuou o fato de que a descarbonização tem um custo elevado, sendo preciso definir quem vai pagar a conta. Também salientou que a descarbonização é um processo que não ocorre a curtíssimo prazo, pois requer grandes investimentos e mudanças comportamentais.
O primeiro painel teve como tema “O mercado de carbono na estratégia do setor mineral” e contou com a moderação de Walter Froes e a participação de Rômulo Sampaio, Leandro Faria, Paulo Camillo Penna e Rosane Santos.
Foi pontuado que a indústria representa 5% das emissões brasileiras de carbono, sendo que o setor mineral tem uma participação de 32% nesse percentual da indústria. Destacou-se que a regulação da legislação brasileira é bastante agressiva, já que as empresas que emitirem acima de 25 mil toneladas/ano serão obrigadas a adotar compromissos de redução.
Um ponto importante discutido foi como acelerar a introdução do mercado de carbono no Brasil.
O segundo painel, que discutiu o tema “Eficiência Energética”, teve a participação de Mauro César Pereira, Edson Del Moro, Rodrigo Amado, Thales Oliveira e Itamar Lessa.
Foi destacado que a redução das emissões de gases de efeito estufa é uma necessidade premente e que a maior eficiência energética é um dos caminhos para se conseguir essa redução. A indústria de mineração tem que implementar melhorias energéticas em seu parque produtivo e aumentar o uso de energias renováveis.
A eficiência energética não se resume apenas à redução do consumo de eletricidade, mas envolve estratégias que garantem um suprimento mais seguro e confiável, além da implementação de processos que visam reduzir, além do megawatt-hora, as emissões de carbono.
Fechando o evento, o terceiro painel abordou o tema “Energias Renováveis” e teve a participação de Paulo Eduardo Pinto, José Augusto Palma, José Eduardo Zampieri, Caroline Merci e Amanda Cássia Machado.
A questão da descarbonização, de certa forma, foi tomada por uma agenda política que acaba prejudicando a evolução do tema. No entanto, o próprio evento demonstrou a importância e a necessidade de discussão.
Nas discussões, foi elogiada a forma como o Brasil conduz a transição energética, com uma posição de liderança na América do Sul, e como o país tem a oportunidade de continuar desempenhando esse papel, não apenas contribuindo para a descarbonização no próprio território, mas também em nível global, com a produção de minerais críticos para a transição energética, como é o caso das terras raras.