A capital mineira anda suja. E não é força de expressão: basta circular por avenidas como Antônio Carlos, Cristiano Machado, Pedro II ou Amazonas para perceber que o mato cresce mais do que os cuidados da Prefeitura. A Lagoinha, tradicional bairro da cidade, virou vitrine do descaso com montanhas de lixo que se acumulam a céu aberto.
Os canteiros centrais das principais avenidas da cidade se enchem de mato, encostas parecem abandonadas à própria sorte, e praças, que deveriam ser espaços de lazer e convivência, tornaram-se territórios do abandono. Um exemplo emblemático é a praça em frente à rodoviária, recém reformada com pompa, propaganda e circunstância, e que já voltou ao triste estado anterior: suja, mal cuidada e invisível aos olhos do poder público.
600 milhões de reais para não retirar o lixo das ruas
Segundo dados da própria SLU, BH gera cerca de 3.000 toneladas de lixo por dia. Uma cidade que coleta isso em volume não deveria ter o lixo como item de decoração permanente nas ruas.
O curioso, ou revoltante, é que a Prefeitura afirma destinar mais de R$600 milhões para serviços de limpeza urbana, coleta, varrição e capina. O contrato da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) com empresas terceirizadas é milionário, mas o retorno visível é pífio. A matemática da sujeira não fecha.
Belo Horizonte tem problemas históricos, é verdade. Mas o cenário atual não é apenas resultado da herança de gestões passadas, é também reflexo de uma política de manutenção urbana que parece ter tirado férias prolongadas. A BH que um dia se orgulhou de ser “cidade jardim” agora luta para ser apenas cidade, abandonada e sem zeladoria.
O lixo nas ruas é mais do que feiura. É risco sanitário, é desrespeito ao contribuinte e é, sobretudo, um sintoma de uma metrópole que parece não poder se olhar no espelho.
Até quando o cidadão belo-horizontino vai naturalizar a decadência? Ou será que, por aqui, o abandono virou política pública?