A BR-381 é, ao mesmo tempo, estrada e metáfora. Estrada que liga Belo Horizonte ao litoral capixaba, mas metáfora que simboliza o labirinto da incompetência administrativa que o Brasil insiste em percorrer. A mais recente prova dessa sina veio à tona com o cancelamento do contrato de R$10,4 milhões para elaboração do projeto da variante Santa Bárbara, um desvio que prometia encurtar o trajeto entre São Gonçalo do Rio Abaixo e Nova Era e aliviar um dos trechos mais críticos da “rodovia da morte”.
Graças ao trabalho preciso da repórter Tatiana Moraes, do jornal Fator, soubemos que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) admitiu, oficialmente, que o traçado previsto exigiria obras de alta complexidade, pontes, viadutos, passagens, tornando inviável o orçamento inicialmente contratado. Em bom português, começaram a planejar pelo fim, calcularam mal, gastaram recursos, para agora admitir que o projeto era inexequível nos moldes propostos.
O descaso com Minas
A variante Santa Bárbara não é capricho de engenheiro ou fantasia de político em época de eleição. É uma obra que representa segurança, redução de acidentes, melhoria da mobilidade e eficiência logística. Cada minuto de engarrafamento na 381 não é apenas estresse para o motorista. É carga parada, mercadoria atrasada, caminhoneiro exausto, risco multiplicado.
A rodovia é um dos principais corredores de escoamento de produção de Minas Gerais. Uma alternativa viável, tecnicamente correta e economicamente eficiente poderia transformar a realidade da região. Mas, como em tantas outras vezes, a má gestão converteu esperança em frustração.
O mais grave é que, mesmo com o cancelamento, os estudos preliminares, ainda que inadequados, serão pagos. Ou seja, R$10,4 milhões saem dos cofres públicos sem que a população veja uma ponte erguida, um viaduto construído, um quilômetro de pista novo. É o dinheiro da sociedade transformado em papelada e justificativas.
Para tornar o quadro pior, o DNIT promete reabrir o edital, desta vez com mais recursos. Ou seja, o erro não corrige a incompetência; apenas infla a conta. A lentidão e o improviso, somados a decisões técnicas duvidosas, mantêm o Brasil no eterno compasso de espera quando o assunto é infraestrutura.
A pergunta é simples. Ninguém do DNIT pisou no terreno antes de assinar o contrato? O traçado foi calculado por GPS, sem considerar a geografia real da Serra? O mínimo que se espera de técnicos responsáveis é a antecipação de cenários e a avaliação prévia da complexidade.
Mas talvez esteja aí a raiz do problema, o DNIT, há anos, é refém de indicações políticas, feudo de partidos que usam a autarquia como moeda de troca. O resultado são decisões tomadas não pela régua da engenharia, mas pela lógica da conveniência.
Minas Gerais tem a maior malha rodoviária do país. É um estado cuja economia pulsa no transporte de cargas, na circulação de mercadorias e na ligação entre regiões. Ainda assim, é tratado com descaso por quem deveria garantir eficiência e segurança. A variante Santa Bárbara é apenas mais um exemplo de projetos que não saem do papel, de viadutos que morrem em planilhas, de obras que se arrastam enquanto vidas se perdem.
A sociedade não pode naturalizar esse padrão de fracasso. Cobrar eficiência não é capricho, é obrigação cívica. Se o Estado arrecada impostos pesados, deve devolvê-los em soluções concretas, e não em estudos cancelados, aditivos infindáveis ou desculpas técnicas que escondem negligência.
Reconhecer o erro e reabrir o edital pode ser uma saída. Mas só fará sentido se houver seriedade no planejamento, rigor na execução e transparência no gasto. O que não podemos admitir é que incompetência e despreparo continuem sendo tratados como meros percalços de percurso.
A variante Santa Bárbara deveria ser símbolo de avanço. Virou, por enquanto, retrato da paralisia. E enquanto a burocracia tropeça em sua própria inépcia, seguimos nós, motoristas, caminhoneiros, cidadãos, pagando a conta em tempo, dinheiro e, não raro, em vidas.
Minas merece mais que justificativas: merece estradas seguras, planejamento sério e respeito. O DNIT, esse gigante emperrado pela política e pela ineficiência, precisa ser repensado. Porque nenhuma variante substitui o básico, competência.