A taxa de desemprego no Brasil atingiu uma mínima histórica, mesmo com juros reais em patamares elevados. Como explicar essa aparente contradição? Estaria o mercado de trabalho brasileiro mais resiliente do que se imaginava ou estamos diante de uma mudança estrutural que ainda não compreendemos completamente?
Tradicionalmente, juros altos desaceleram a economia, encarecem o crédito e reduzem o consumo, o que em tese deveria aumentar o desemprego, mas o que se observa é o oposto. O mercado de trabalho segue aquecido, especialmente nos setores de serviços. Isso levanta uma hipótese relevante. Será que a taxa natural de desemprego no Brasil caiu? Fatores demográficos e educacionais ajudam a entender esse fenômeno.
A população brasileira está envelhecendo, os jovens, grupo historicamente mais vulnerável ao desemprego, representa uma fatia maior da força de trabalho. Além disso, o nível médio de escolaridade aumentou, o que tem a reduzir a volatilidade do emprego e tornar o mercado mais estável.
Outro ponto importante é a composição da inflação com bastante preços em serviços e estimulado pelo aumento de gastos do governo. Isso torna o uso da Selic um instrumento de controle inflacionário menos eficaz, o que pode explicar porque o emprego não cede mesmo com juros elevados.
Há também uma questão de produtividade e informalidade. Muitos trabalhadores estão ocupados, mas em posições de baixa remuneração ou sem proteção social. A taxa de desemprego pode estar baixa, mas isso não significa que o mercado esteja saudável.
É preciso olhar além dos números e avaliar a qualidade dos empregos gerados. Em economia, não existe alquimia. A combinação de juros altos e desemprego baixo pode parecer mágica, mas é fruto de múltiplas variáveis que exigem análise técnica e políticas públicas coerentes. Sem isso, o equilíbrio aparente pode se desfazer com rapidez.