O Brasil volta a conviver com uma tragédia anunciada: mortes causadas por bebidas adulteradas com metanol. O episódio revela, mais uma vez, um problema estrutural do país — o de ser, muitas vezes, o principal responsável pelos seus próprios desastres.
O crime avança porque o ambiente é fértil. Impostos altíssimos sobre bebidas alcoólicas e uma burocracia sufocante tornam o mercado formal cada vez menos competitivo, abrindo espaço para o ilegal. Quando o preço de um produto é artificialmente inflado por tributos, o mercado paralelo surge como uma alternativa natural e perigosa. Estima-se que, em alguns estados, mais de 20% do mercado de bebidas seja informal.
Esse espaço é ocupado por criminosos que operam à margem da lei, colocando a vida das pessoas em risco e prejudicando empresas que tentam produzir dentro das regras. Mas o problema vai além da tributação. Em resposta à crise, há quem defenda o retorno de antigos programas de fiscalização que, na prática, tinham eficiência duvidosa. Esses programas muitas vezes funcionavam mais como instrumento arrecadatório do que de proteção ao consumidor.
É o típico comportamento do Estado brasileiro: arrecadar muito, gastar mal e, no fim, não resolver o problema. A verdade é que o governo, que deveria garantir segurança e previsibilidade, acaba sendo parte dele. Falta punição efetiva para o crime, falta fiscalização inteligente e sobra incentivo para quem age fora da lei. Assim, o consumidor é duplamente punido: paga caro pelos produtos formais e corre risco de morte com os informais.
Em economia, não existe alquimia. Quando o Estado cria um ambiente hostil para quem produz e ineficiente para quem fiscaliza, o mercado paralelo prospera — e o custo disso não é apenas econômico, é humano. Tragédias como essa são o retrato de um país que prefere arrecadar a proteger.
Se quisermos evitar novos episódios como esse, o caminho não é mais impostos nem mais burocracia — é fiscalização que funcione de verdade.