Há um movimento quase silencioso que anuncia o embaralhamento das cartas para 2026. Minas Gerais, sempre o estado do meio-termo e da moderação, volta a ser o centro de uma disputa que promete ser mais estratégica do que barulhenta. A cada rodada, novos jogadores se posicionam, e velhas alianças são reeditadas sob nova maquiagem.
Pacheco e o retorno às origens
Rodrigo Pacheco pode estar prestes a refazer o caminho de casa, é certo seu retorno ao MDB. Foi lá que começou sua trajetória política, e é lá que, tudo indica, pode reencontrar um porto seguro para 2026. A reaproximação com o partido abriria espaço para o plano que Lula vem desenhando com sutileza mineira. Uma chapa com Pacheco candidato ao governo e Marília Campos, prefeita de Contagem e estrela do PT, como vice.
A equação é quase perfeita para o Palácio do Planalto: um nome de centro, com verniz institucional, ladeado por uma mulher popular na Região Metropolitana e fiel ao projeto petista. Uma dobradinha que fala aos ouvidos dos mineiros e sussurra a Brasília.
Kassab, Mateus e o vice que não chega
Enquanto isso, Mateus Simões, o ungido de Romeu Zema, ainda procura um vice “para chamar de seu”. A demora não é à toa: a decisão passa diretamente pelo humor e pelos interesses de Gilberto Kassab, o dono do PSD, que mede cada passo com régua nacional.
Kassab aguarda ansioso a decisão de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, sobre sua candidatura à presidência da república. Minas é a joia da coroa para o PSD, e Kassab não entrega essa coroa de graça. Se Tarcísio se lança candidato no plano federal, uma composição com Kassab daria a Tarcísio a primazia da indicação do vice em Minas.
Cleitinho, o cavaleiro errante
O senador Cleitinho Azevedo recebeu o recado do Republicanos: não será o candidato da legenda ao governo. A mensagem, embora indigesta, não o abate. Com mandato garantido até 2030, Cleitinho pode se dar ao luxo de testar novos ventos.
Seu destino natural seria o PL, casa de Bolsonaro, mas há resistências. O partido o vê como imprevisível, uma espécie de meteorito político, que ilumina e destrói na mesma passagem. E o episódio com o Novo, quando ele apertou as mãos dos dirigentes do partido, sorriu e nunca mais apareceu, deixou sequelas na imagem do senador.
Ainda assim, Cleitinho mantém o carisma e o timing popular. Sabe falar ao eleitor ressentido, aquele que desconfia de tudo e de todos, inclusive dos políticos. O problema é que, neste jogo, até o outsider precisa de um partido que o banque.
Nikolas, o craque cobiçado
Ainda há Nikolas Ferreira, o fenômeno das redes. Ele é o jogador que todos querem ganhar no par ou ímpar da pelada para ser o primeiro a escolhê-lo para o time. Jovem, midiático e dono de uma base militante fiel, Nikolas é o trunfo mais valioso do campo bolsonarista em Minas.
Por enquanto, assiste de camarote ao embaralhamento, com o celular na mão e o cronômetro ligado. Sabe que o tempo político é uma ciência: quem se lança cedo demais cansa; quem espera demais, perde o bonde.
A esquerda procura um rosto
No campo da esquerda, o nome que começa a ganhar corpo é o da deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL). Jovem, combativa, urbana e de discurso social afiado, Bella representa um eleitorado fiel, embora limitado. É um rosto que simboliza resistência e coerência, mas ainda falta musculatura eleitoral para um voo majoritário.
No Senado as cartas ficam mais evidentes
Marcelo Aro, político que domina os bastidores com discrição e eficácia, é hoje “candidatíssimo”. Seu recolhimento atual não pode ser entendido como fraqueza, é tática. Ele se move nos bastidores, costurando apoios e alianças que podem lhe dar o impulso necessário para figurar entre os protagonistas. Aro entende o jogo: em Minas, quem fala menos, cresce mais.
E se há alguém que não se move um milímetro, é Alexandre Silveira. O ministro das Minas e Energia crava: “não saio do PSD nem a porrete”. A vaga ao Senado pelo partido é dele, e ponto final. Silveira tem cacife em Brasília, apoio no empresariado mineiro e trânsito nos dois lados da Esplanada. Está onde gosta: no centro da mesa, com cartas boas e cara de quem não precisa blefar.
As entidades de classe: o movimento silencioso
Há, no entanto, um novo ingrediente nesse jogo: os presidentes das entidades de classe mineiras. Três deles, de peso e influência, articulam candidaturas majoritárias ou proporcionais. Representam o empresariado, o setor produtivo e o pragmatismo técnico que a política tradicional insiste em ignorar. Se entrarem de fato no tabuleiro, podem embaralhar ainda mais as estratégias de todos os lados.
Minas, o espelho do Brasil
Minas é sempre o estado do meio, da ponderação e do voto de consciência. É o retrato do Brasil em miniatura; Se Minas hesita, o país reflete. As cartas estão na mesa, mas ninguém ainda apostou todas as fichas.
E talvez esse seja o charme e o perigo da política mineira: aqui, quem mostra o jogo cedo demais, costuma perder antes da hora. Porque, em Minas, mais importante que jogar é saber quando utilizar a carta.
