O Supremo Tribunal Federal fixou um novo entendimento sobre a cobrança de tributos e a aplicação de multas relacionadas à produção de biodiesel. A decisão, tomada no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3465, questionava pontos da Medida Provisória 227 de 2004, convertida na Lei 11.116 de 2005, que regula o registro especial de produtores e importadores de biodiesel e a incidência das contribuições ao PIS e à Cofins. O objetivo do julgamento foi definir os limites da atuação do Poder Executivo na alteração dessas alíquotas e disciplinar as sanções aplicáveis às empresas do setor.
O STF confirmou que o Executivo pode ajustar as alíquotas de PIS e Cofins, desde que respeitados os limites estabelecidos em lei e os princípios constitucionais tributários. Qualquer aumento de tributo, entretanto, só poderá entrar em vigor após 90 dias de sua publicação, em observância à chamada anterioridade nonagesimal, que impede mudanças súbitas na carga tributária. Já as reduções de alíquotas exigem estimativa prévia do impacto orçamentário e financeiro, como determina a Constituição, garantindo que a política fiscal preserve o equilíbrio das contas públicas.
Outro ponto relevante foi o tratamento dado ao cancelamento do registro especial concedido pela Receita Federal aos produtores de biodiesel. A Corte entendeu que essa medida só pode ocorrer em casos de dívidas tributárias relevantes e quando o não pagamento representar risco à concorrência ou à igualdade entre contribuintes. O ato deve ser fundamentado e demonstrar motivação concreta. Além disso, o Supremo determinou que o recurso interposto ao ministro da Fazenda contra o cancelamento terá efeito suspensivo, impedindo que as atividades da empresa sejam paralisadas até decisão final.
A decisão também limitou o valor das multas aplicáveis quando houver falhas técnicas nos medidores de vazão do biodiesel — equipamentos que registram a quantidade produzida. Antes, a penalidade podia alcançar 100% do valor comercial da produção no período de inoperância, mas o STF reduziu o limite para 30%, considerando que as sanções devem ser proporcionais e não inviabilizar a continuidade das atividades econômicas. Com isso, o Tribunal equilibrou o dever de fiscalizar e arrecadar com a necessidade de garantir segurança e viabilidade ao setor produtivo.
O novo entendimento do STF também trouxe clareza quanto ao seu alcance temporal: ele será aplicado apenas às ações judiciais iniciadas após a publicação da ata de julgamento. Processos já em curso continuarão sendo analisados conforme as regras anteriores, evitando insegurança jurídica e preservando o direito das empresas envolvidas em litígios anteriores. Essa delimitação reforça a previsibilidade das decisões judiciais e a estabilidade das relações entre o Fisco e os contribuintes.
Ao estabelecer critérios mais claros sobre a atuação do Poder Executivo, os limites de multas e o respeito aos princípios constitucionais, o Supremo fortalece o ambiente jurídico e econômico do setor de biodiesel. A decisão representa um avanço na consolidação de um sistema tributário mais coerente e equilibrado, que busca compatibilizar arrecadação, competitividade e desenvolvimento sustentável. Com regras mais transparentes, as empresas do setor poderão planejar melhor suas atividades e contribuir de forma mais segura para a expansão de uma matriz energética renovável no país.