A fumaça branca ainda não subiu, mas os bastidores do Vaticano já estão fervendo. Com a expectativa crescente sobre quem será o próximo papa, as apostas e especulações vão do tradicional ao progressista. Mas convenhamos: será que esse é o momento de manter a guinada progressista num mundo cada vez mais perdido em relativismos, “culturas do cancelamento” e modismos ideológicos?
As bolsas de apostas refletem esse clima de tensão e incerteza. Liderando as projeções está Pietro Parolin (37%), Secretário de Estado do Vaticano. Italiano, diplomata experiente, Parolin é visto como um homem de bastidores. Embora mantenha posturas conservadoras em temas pontuais, representa a continuidade do atual estilo pastoral — marcado por prudência institucional, foco diplomático e pouca confrontação direta com os embates culturais contemporâneos.
Em segundo lugar, aparece Luis Antonio Tagle (26%), cardeal filipino com perfil carismático e próximo ao papa Francisco. É abertamente progressista em temas sociais, defensor da “Igreja em saída” e do diálogo com outras culturas e religiões. Tagle seria, na prática, a continuidade de uma linha mais aberta à flexibilização pastoral e à linguagem moderna, algo que pode agradar parte da mídia e dos ambientes seculares, mas que não responde com clareza à crise de identidade da Igreja.
Na terceira colocação está Péter Erdő (8%), húngaro, arcebispo de Esztergom-Budapeste. Com forte formação teológica e jurídica, Erdő é conservador em doutrina, reservado no estilo, e comprometido com a ortodoxia católica. Sua eleição seria um sinal de retomada de uma liderança espiritual mais focada na defesa da fé, na unidade litúrgica e na integridade moral da Igreja.
Outros nomes também aparecem no radar: Peter Turkson (7%), Pierbattista Pizzaballa (7%), Robert Sarah (5%), Matteo Zuppi (5%), Raymond Burke (3%), Mario Grech (2%) e Fridolin Ambongo Besungu (1%). Destes, Sarah e Burke representam claramente a ala conservadora, enquanto Zuppi e Tagle integram o grupo de tendência mais progressista. Mesmo com apoio público de figuras como Donald Trump, o cardeal norte-americano Raymond Burke aparece com apenas 3% nas apostas.
Não é segredo que vivemos uma época de instabilidade moral e espiritual. O globalismo se impõe com uma agenda que muitas vezes atropela soberanias, tradições e a própria liberdade religiosa. Por outro lado, a cultura “woke” avança impondo novos dogmas — muitos dos quais completamente incompatíveis com a doutrina cristã.
Diante disso, parece claro que a Igreja precisa, agora mais do que nunca, de uma liderança firme, com raízes profundas na Tradição. Não se trata de negar os avanços sociais ou de virar as costas para os desafios do século XXI. Trata-se de lembrar quem somos e o que defendemos: valores eternos e clareza doutrinária.
O próximo papa terá a missão de ser um “Pedro” firme na fé, não um gestor de concílios diplomáticos. É tempo de retomar a fortaleza da ortodoxia, proteger a liturgia, defender a vida desde a concepção até o fim natural e confrontar ideologias que distorcem a dignidade humana.
Dentre os nomes cogitados, o cardeal guineense Robert Sarah se destaca como símbolo dessa postura. Com voz mansa, mas de convicção inabalável, Sarah não apenas representa a tradição africana viva do catolicismo, como também tem se posicionado com coragem frente à secularização da fé.
Outro nome que merece atenção é o cardeal húngaro Péter Erdő, teólogo sólido, conservador discreto, mas influente — alguém que poderia unir tradição com governabilidade sem ceder ao modismo e às pressões externas.
Considerando apenas os preferidos, sem dúvidas, o italiano Pietro Parolin seria a melhor opção ao progressista Luis Antonio Tagle.
A “torcida” deste colunista é pelo africano Robert Sarah, mesmo que tenha apenas 5% nas apostas.
Se a fumaça branca quiser significar mais do que apenas a eleição de um novo pontífice — se ela quiser significar esperança, coerência e coragem — que ela anuncie um papa que saiba dizer “sim” à Verdade e “não” ao caos relativista.