E não é que o Ministério da Fazenda resolveu brincar de “bate e volta” com o Imposto sobre Operações Financeiras? Na tarde de ontem, com pompa e cara de quem achou a solução do século, o governo anunciou um aumento de 3,5% no IOF para os investimentos de fundos brasileiros no exterior. Mal deu tempo de o mercado digerir a notícia e já veio o recuo. À noite. Comedidamente. Como quem pisa no rabo do gato e depois oferece leite para compensar.
A cena foi tragicômica. Primeiro, a paulada: “vamos taxar!” Depois, o susto geral: “mas que ideia é essa?!” E por fim, o passo atrás: “desculpa aí, pessoal, foi mal.” Tudo isso num espaço de poucas horas. Foi quase uma performance de improviso, pena que o palco era a economia nacional e o público pagante, como sempre, somos nós.
O mercado gritou e o governo recuou
Segundo o discurso oficial, foi “após diálogo e avaliação técnica” que a alíquota voltou ao zero. Mas vamos combinar? Diálogo de verdade não acontece depois do anúncio, e avaliação técnica que funciona é a que vem antes do estrago. O que vimos foi um governo apanhando da própria pressa e levando um pito do mercado. E que pito! O mercado gritou, o governo tremeu, e o IOF saiu de fininho, sem nem pedir desculpa pelo susto.
Agora, justiça seja feita: manter a alíquota zerada foi a decisão correta. Taxar investimentos lá fora, especialmente com essa volatilidade econômica e política que a gente vive, seria dar um tiro certeiro no próprio pé. E olha que esse pé já anda mancando há tempos.
Mas o episódio deixa um recado importante: política fiscal não pode ser feita no susto, muito menos na base da tentativa e erro. Isso aqui não é ensaio de escola de samba, onde se erra no compasso e o pessoal dá risada. Aqui, cada movimento mal calculado custa pontos de confiança, dólares de investimento e litros de paciência de quem ainda acredita em planejamento.
Subir impostos pode até fazer parte do jogo. Mas venha com calma, explique direito, ouça quem entende e, por favor, pare de transformar o Ministério da Fazenda num laboratório de surpresas.
Porque se continuar assim, o contribuinte é que vai precisar de um IOF, só que de “Imposto sobre Operações Frustradas”.