O Brasil tem atualmente cerca de 78 mil pessoas à espera de transplantes de órgãos e tecidos. Em Minas Gerais, são mais de 8.500 pacientes na fila — a maior parte deles à espera de córnea, rim e fígado. Apesar do cenário desafiador, o país bateu em 2024 um recorde: mais de 30 mil transplantes foram realizados pelo SUS, um aumento de 18% em relação a 2022. Do total, Minas contribuiu com 2.400 procedimentos.
“O que falta são doadores para fazer os transplantes, né? O que significa que a oferta é menor do que a demanda”, afirmou a coordenadora de transplantes do Ministério da Saúde, Patrícia Freire, em entrevista à 98 News nesta segunda-feira (9/6).
Conscientização e acolhimento
Segundo Patrícia Freire, o principal gargalo para ampliar os transplantes no país continua sendo a baixa taxa de doação. A recusa das famílias ainda é alta. “Hoje a gente tem mais de 70.000 pessoas aguardando por um transplante de órgãos e ou tecidos no nosso país e a gente faz ali cerca de 6.000 transplantes por ano. Então, é fácil ver que o que falta, na verdade, são doadores.”
O Ministério da Saúde investe em campanhas e capacitação de profissionais para abordar os familiares em momentos delicados. “Um ato de solidariedade muito grande e que o Ministério da Saúde investe todos os anos, não só na conscientização da população, mas também no treinamento dos profissionais que vão entrevistar essas famílias, acolher essas famílias e promover toda a informação necessária”, disse Patrícia.
Logística e distâncias
Com o crescimento da demanda, a logística de transporte também se tornou um fator crítico. “Desde 2001, o Ministério da Saúde tem um acordo de cooperação técnica com as companhias aéreas da aviação comercial. […] No ano passado foram transportados mais de 4.000 órgãos para transplantes através desse acordo de cooperação.”
Além disso, a Força Aérea Brasileira (FAB) é acionada em casos de maior urgência, como transporte de corações e pulmões. “A gente utiliza esse convênio com a FAB para realizar o transporte desses órgãos.”
Minas em destaque
Minas Gerais tem ampliado sua estrutura e participação no Sistema Nacional de Transplantes. “Minas Gerais desponta aí como um dos estados que realiza quase todas as modalidades de transplantes. […] A cada ano vem aumentando o seu potencial tanto de identificar e de notificar potenciais doadores como também em agir com seus profissionais de saúde.”
Segundo a coordenadora, o estado se aproxima de indicadores registrados em locais como Paraná, Santa Catarina, Ceará e São Paulo. “Tem muito espaço para crescer ainda, como todo o Brasil, mas vem despontando aí como um dos estados mais importantes.”
Capacitação como chave para o avanço
Parte do avanço recente é atribuído à formação contínua das equipes médicas. “As equipes intra-hospitalares de doação e transplantes têm uma rotatividade muito grande. Então é preciso capacitar esses profissionais para acolher e entrevistar essas famílias.”
O Ministério da Saúde anunciou ainda um novo programa nacional de qualidade na doação, com foco em ampliar a formação dos profissionais envolvidos diretamente na triagem e abordagem de familiares.