Os Mamonas Assassinas fizeram um sucesso gigantesco que só quem viveu aquela época pode descrever. O LP, o CD e a fita K7 vendiam muito. Ainda não existiam os CDs piratas como no final dos anos 1990, mas dava para encontrar as fitas cassetes pirateadas em alguns camelôs. Não demorou muito para os rapazes atingirem o disco de ouro (100 mil discos), platina (250 mil), platina duplo (500 mil), diamante (1 milhão de cópias).
De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), hoje Pro-Música Brasil (PMB), o álbum dos Mamonas conquistou disco de diamante. Contudo, informações publicadas dão conta que o LP chegou a três milhões de cópias vendidas. Na história da música brasileira, não existe outro artista ou banda que tenha vendido tanto e logo no LP de estreia.

Foto: Reprodução/Redes sociais Mamonas Assassinas
Para se ter ideia do tamanho do sucesso que os Mamonas Assassinas faziam, o panorama da música no Brasil, naquela época, era o seguinte: o que bombava nas rádios era o sertanejo, com Chitãozinho & Xororó, Leandro & Leonardo, Zezé Di Camargo & Luciano batendo recordes de vendagem de discos e colecionando discos de ouro, platina, diamante. Sem falar na Axé Music e o pagode. É o Tchan, Companhia do Pagode, Raça Negra, Só Pra Contrariar eram sucesso.
No rock, ainda existiam bandas como Titãs, Barão Vermelho, Capital Inicial e Legião Urbana, e os mais recentes Skank, Raimundos e Pato Fu, porém, sem o mesmo sucesso das músicas populares. Ou seja: não era o momento do rock, e os Mamonas Assassinas atingiram um grande sucesso pelo talento deles, contrariando a lógica do que era pedido e executado nas rádios e na TV. Os rapazes foram muito bem recebidos por boa parte da crítica, do público e dos próprios artistas.
Contrato com a Globo? Sim, quase aconteceu
Os rapazes batiam recorde de audiência, seja no Faustão ou no Gugu — aquela guerra pela liderança no Ibope era lendária. Uma ideia do grande alcance que os Mamonas Assassinas atingiam foi no programa Domingo Legal, apresentado por Gugu Liberato, em 29 de outubro de 1995. A atração chegou a picos de 47 pontos na audiência, sendo o segundo maior Ibope da história do SBT. Naquela guerra por audiência dos anos 1990, valia de tudo. Quem viveu, viveu. Em meio à quantidade interminável de shows, ainda davam entrevista nas rádios, revistas e jornais.

Foto: Reprodução/Redes sociais Mamonas Assassinas
De olho na audiência que os Mamonas Assassinas entregavam para as concorrentes e também para a Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, diretor-geral da Rede Globo, quis contar com a banda de forma exclusiva da emissora. Quem revelou essa história foi o próprio Rick Bonadio em sua biografia escrita por ele com Luiz Carlos Pimentel.
“O Boni era diretor-geral da Rede Globo e mandou um avião me buscar em São Paulo para uma reunião. Cheguei ao Rio, sentamos para conversar e ele foi direto ao ponto. Pagaria uma quantia absurda, tipo 1 milhão de dólares por ano para os Mamonas serem artistas exclusivos da emissora”, relembrou Rick Bonadio
Mesmo com uma proposta tentadora como essa e em tão pouco tempo, além da pouca idade de todos, Rick recusou. “Na minha cabeça, o grupo teria uma carreira longa. Não podia começar fechando portas de cara, tentando extrair o máximo de grana possível”, finalizou o empresário e produtor da banda.
“Quantcha gente, quantcha alegria, a minha felicidade é um crediário nas Casas Bahia”
De acordo com Rick Bonadio, em sua biografia, eram tantos pedidos de shows que o grupo fez 190 apresentações em 180 dias. Tocaram em 25 dos 27 estados brasileiros. Apenas o Acre e o Tocantins não receberam os Mamonas Assassinas. Os cachês eram altos, chegando a 100 mil dólares por evento.
Propostas para lançar produtos com a marca Mamonas Assassinas – muitas delas, tentadoras – também chegaram as mãos de Rick Bonadio, que além de produtor, era empresário da banda. Contudo, Rick entendia que o foco tinha que ser na música, no sucesso que eles faziam em cima dos palcos, e não em outros meios. Samy Elia também participava da equipe de cuidava dos rapazes e viajava frequentemente para os shows do grupo.
Com uma agenda tão apertada, com shows e apresentações na TV e em outras mídias, era necessário cumprir os compromissos a jato. Sim, conforme a quantidade de compromissos foi crescendo, foi importante alugar jatos para seguir de um ponto a outro do país. Muitas vezes, até os próprios contratantes dos shows alugavam os aviões tudo para ter os Mamonas Assassinas em sua cidade ou evento.
Os Mamonas Assassinas também receberam prêmios. Em 1995, faturaram os troféus Xuxa Hits e 1º Prêmio SBT de Música. No ano seguinte, também ganharam o Troféu Imprensa nas categorias “Revelação do Ano” e “Melhor Música”, com “Pelados em Santos”. As vitórias no Troféu Imprensa foram homologadas em maio de 1996.
O sucesso foi tanto, mas tanto, que ficamos apenas com a saudade
O ano de 1996 prometia muito mais. Os shows não paravam de acontecer, as realizações pessoais e profissionais aconteciam, e até uma turnê fora do Brasil estava programada. Os Mamonas Assassinas chegaram a gravar uma versão em espanhol de uma música do repertório. “Pelados em Santos” virou “Desnudos em Cancún”, gravado dias antes do acidente que vitimou os rapazes. Contudo, não houve tempo nem para a viagem a Portugal, tampouco para o início da produção de um novo disco que, certamente, iria acontecer.
Não houve tempo, também, para que os Mamonas recebessem o tão sonhado disco de ouro e as outras homologações que vieram pelo caminho. Não foi por falta de pedido e não houve qualquer retorno da gravadora, segundo conta Rick Bonadio em sua biografia. Os rapazes queriam pendurar aquela realização na parede. Coube a Rick chamar os familiares e entregar os discos atrasados, recebidos um dia após a morte de todos os integrantes do fenômeno Mamonas Assassinas.

Foto: Reprodução/Redes sociais Mamonas Assassinas
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