Quero falar hoje sobre como recuperar a humanidade sem parecer marketing. A empatia virou pauta, mas também produto. Depois de anos em que o discurso humanizado foi adotado como estratégia de branding, muitas empresas confundiram tom de voz acolhedor com cultura empática.
O resultado é um excesso de storytelling sem substância, aparecendo em campanhas que falam de cuidado, mas que sustentam ambientes tóxicos, como falei na coluna anterior. Segundo Adam Grant, autor da obra Pense de Novo, a empatia genuína começa pela disposição de escutar para compreender, não para responder. Mas o mundo corporativo ainda opera pela lógica da performance ou, se você preferir em português, do desempenho.
Fala-se de escuta ativa enquanto se mantém o modelo vertical de poder. Esse descompasso mina a confiança, porque os colaboradores percebem quando o discurso de bem-estar não corresponde à prática. O problema vai além da comunicação, é estrutural. As empresas tentam parecer humanas em vez de serem humanas e o público, seja ele interno, externo ou misto, já percebeu.
A consequência é um desgaste silencioso traduzido em desengajamento, alta rotatividade, desânimo e queda na identificação com a marca. Recuperar a humanidade exige coragem institucional. Significa criar espaços de vulnerabilidade real, admitir falhas, ajustar processos e dar legitimidade à escuta.
Empatia corporativa não se escreve em campanha. Se pratica na política interna, no ritmo das reuniões, nas pausas para ouvir e no reconhecimento sincero das pessoas. No fim, a marca mais humana é aquela que não precisa dizer que é.
