Entre acordes e arquibancadas: o Cruzeiro de Lô Borges

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Músicou revelou início da paixão pelo clube e peripécias da adolescência em revista de 1996 (Imagens cedidas à Rede 98/Henrique Salmaso)

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Lô Borges não era cruzeirense por herança, mas por convicção. O destino, com a ajuda de um clássico entre Cruzeiro e América, tratou de dar um empurrãozinho. Da arquibancada do Independência, em meados de 1962, Lô se apaixonou pelo azul estrelado e pediu ao pai, americano convicto, um presente de Natal muito específico: um jogo de botão do time que havia encantado seus olhos.

Foi assim que começou a história de amor que atravessou décadas, canções e até brigas familiares. O caso foi descrito pelo próprio artista numa reportagem especial da edição de 1996 da Revista do Cruzeiro. Além do início da paixão pelo futebol, Lô falou sobre a influência da Raposa na sua música e as peripécias que aprontou na adolescência para ver a equipe mineira jogar.

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Paixão que vem de berço?

Ser cruzeirense na casa dos Borges não era fácil. O pai torcia pelo América, e os irmãos mais velhos, todos atleticanos, faziam pressão para que o caçula “voltasse pro caminho certo”. Mas o menino não arredou o pé: resistiu aos puxões de orelha e ergueu com orgulho a bandeira celeste.

“Os meus irmãos mais velhos obrigavam a gente a ser atleticano”, relembrou Lô na revista. “Sou o primeiro cruzeirense da família. Lá em casa são 11 filhos, eu sou o sexto. Os cinco anteriores são atleticanos e meu pai americano. Então, eu recebia muito pressão”, disse.

Sem companheiros celestes dentro de casa, a solução era escapar das aulas para ver o time de Tostão e Dirceu Lopes, que, nas palavras do músico, virou sua cabeça. “Quase tomei bomba, pois matava aula para ver eles no Barro Preto. Eu aprendia muito mais vendo Tostão e Dirceu Lopes treinarem do que na aula”, brincou na entrevista.

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Páginas da reportagem da Revista do Cruzeiro (Imagens cedidas à Rede 98/Henrique Salmaso)

Trem Azul

Durante toda a conversa, Lô repetia o tom de encantamento. Relembrou os tempos de Tostão, da Taça Brasil de 1966 e dos ídolos que ajudaram a construir a Academia Celeste.

E se o som do violão traduzia a alma do músico, o som das arquibancadas traduzia a do torcedor. Na entrevista, o artista defendeu o desejo de que Trem Azul, uma de suas músicas mais populares, batizasse uma torcida organizada do Cruzeiro.

“Não sei por que ainda não pegaram esse nome”, disse em 96. “Acho que a solução para essa torcida existir vai ser eu mesmo criá-la”, completou o raciocínio.

Apesar de não haver torcida organizada batizada pelo desejo do compositor, a canção chegou a cair nas graças dos torcedores, entoavam o Trem Azul em apoio ao Cruzeiro, sobretudo no antigo Mineirão.

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Longa estrada

Nem mesmo a vida corrida de artista apagou o amor pelo clube. Quando não podia ir ao Mineirão, Lô acompanhava os jogos pelo rádio, sempre fiel. Nos anos 70, foi pioneiro em subir aos palcos vestindo a camisa do Cruzeiro — muito antes de bandas como Skank ou Engenheiros do Hawaii popularizarem a moda.

“Eu lancei essa moda, só que ninguém ficou sabendo”, disse à revista.

Lô Borges viveu o clube com a alma de quem compõe uma canção: intensa e sincera. Entre acordes e gols, construiu uma trajetória em que o azul nunca foi apenas cor, mas sentimento, trilha sonora e identidade. E se, porventura, algo ficou por dizer, basta recorrer ao Trem Azul: na canção do vento, elas não se cansam de voar.

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Thiago Cândido

Jornalista pela UFMG. Repórter na 98 desde 2025. Participou de reportagem vencedora do Prêmio CDL/BH de Jornalismo 2024.

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