No dia em que o ataque a uma creche na cidade de Janaúba completa 4 anos, foram prestadas homenagens às vítimas. O crime, que aconteceu em 5 de outubro de 2017, terminou com 14 pessoas mortas, sendo 10 crianças que estudavam na creche ‘Gente Inocente’.
Um homem que era vigia noturno na instituição foi ao local, ateou fogo no próprio corpo e em crianças. Entre as pessoas que perderam a vida, está a professora Heley de Abreu Silva Batista, que conseguiu salvar cerca de 25 alunos do local. Segundo a Prefeitura de Janaúba, uma celebração foi realizada na Igreja Santa Rita de Cássia, no bairro Barbosa. Além disso, foi oferecido um café da manhã na creche onde o massacre aconteceu.
O marido de Heley, o cirurgião dentista Luiz Carlos Batista, de 53 anos, disse que a dor da perda da esposa ainda é constante, mas considera que o ato de bravura da professora, que salvou dezenas de crianças, foi heroico. O casal tem três filhos.
“Eu sinto muita falta, as crianças sentem muita falta. Mas para mim, apesar do sofrimento e da ausência, a gente vê que o ato que a Heley teve, foi um ato divino, de coragem e muita fé para salvar as crianças. Até hoje elas falam que foram salvas pela ‘tia’. É doloroso também, mas ver que ela foi capaz de salvar muitas crianças é gratificante”, disse.
Luiz Batista diz que o momento agora é de “cuidar das crianças” que sobreviveram ao ataque. Para isso, ele e familiares das vítimas criaram a Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia Gente Inocente de Janaúba (AVTJana), com o objetivo de auxiliar os sobreviventes. Segundo o cirurgião dentista, cerca de 14 crianças ainda precisam passar por procedimentos médicos e cirurgias plásticas. A AVTJana tem cerca de 83 famílias cadastradas.
“Tem crianças que tiveram lesões graves e, como estão em fase de crescimento, tiveram que passar por diversas cirurgias. Então a gente presta esse auxílio, porque muitas famílias não tem condição de pagar pelos procedimentos”, afirmou.
Para o marido da professora, que é o presidente da associação, os recursos disponíveis devem se esgotar em breve. “A associação vive de doações e precisamos de ajuda para dar prosseguimento aos trabalhos”. A Defensoria Pública de Minas Gerais informou que a associação recebeu, via campanha de doação, R$400 mil meses depois da tragédia, porém, o dinheiro não será suficiente para manter os trabalhos da AVTJana.
A Prefeitura da cidade informou que realiza o pagamento mensal da antecipação parcial de indenização, cumprindo acordo firmado com o Ministério Público via Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), com valores que vão de R$545,45 a R$1090,90 às vítimas e familiares. Porém, o defensor público Gustavo Dayrell, responsável por intermediar o acordo com o município, alega que não houve um acordo para um valor final a ser pago para os envolvidos.
“Todas as famílias estão recebendo esta antecipação, mas muitos acham insuficiente e todo ano fica esta angústia, porque as famílias e vítimas não sabem se vão ter a renovação do pagamento”, ponderou Dayrell.
Ainda segundo o defensor público, o pai de uma vítima conseguiu um acordo na Justiça para receber R$100 mil pela morte do filho.
“O juiz de Janaúba fixou este valor em uma sentença. O acordo deve ser usado como parâmetro. O que foi pago até agora para os envolvidos é muito inferior a isso, somando as antecipações, os pagamentos até o momento variam entre R$18 e R$36 mil“, completou.
Entenda o caso
Na manhã de 5 de outubro de 2017, o vigia noturno, Damião Soares dos Santos, de 50 anos, ateou fogo no próprio corpo, no local e em crianças que estavam na creche ‘Gente Inocente’.
Reprodução / PMMG
A pedagoga Heley de Abreu Silva, Batista, de 43 anos, chegou a entrar em luta corporal com o criminoso para impedir que ele continuasse o ataque e ajudou a retirar crianças feridas do local. Ela teve 90% do corpo queimado e morreu no hospital, assim como as funcionárias Jéssica Morgana e Geni Oliveira. Além deles, 10 crianças morreram. Damião tirou a própria vida durante o ataque.
Arquivo Pessoal
Em homenagem a Heley, o então presidente Michel Temer concedeu título post mortem da Ordem Nacional do Mérito pelo “gesto de coragem e heroísmo para salvar a vida de seus alunos”. Ela também teve o nome dado à creche em que trabalhava e em outras instituições de ensino pelo Brasil. Aa rodovia LMG-631, entre São João da Ponte e Francisco Sá, também passaram a levar o nome de Heley.
Divulgação / Sec. Educação de Fortaleza