Apesar de possuir polos industriais relevantes, o Brasil avança lentamente na automação de suas fábricas. Enquanto países como México e China aceleram a digitalização e o uso de robôs, boa parte das indústrias brasileiras ainda opera em processos da era 3.0.
Para entender os entraves e as oportunidades de mudança, a 98 News conversou nesta segunda-feira (4/8) com o engenheiro de produção e diretor da PMA Automação Industrial, Hugo Ferreira.
“O Brasil sempre vem engatinhando no processo de desenvolvimento tecnológico das indústrias. Isso se explica pelo alto custo de implementação e pela tributação e burocracia para adquirir equipamentos que, muitas vezes, são produzidos aqui, mas dependem de peças de outros países. Essa dependência e os impostos acabam dificultando o avanço tecnológico das fábricas”, afirmou.
Hugo destaca que a barreira não é apenas estrutural, mas também cultural.
“Boa parte dos empresários brasileiros ainda vê a automação como custo, e não como investimento estratégico para melhorar a competitividade e a qualidade dos processos.”
Segundo ele, três pilares travam o avanço do setor: cultura empresarial conservadora, dependência de tecnologia importada e burocracia tributária.
Formação e mão de obra
Outro desafio é a escassez de profissionais qualificados. Para Hugo, o Brasil já tem cursos técnicos e universidades se aproximando do setor industrial, mas falta interesse dos jovens para seguir carreiras que exigem dedicação intensa.
“O desinteresse é o que tem afastado a população das áreas técnicas. A falta de profissionais especializados em programação de robôs e integração de sistemas limita a implementação da automação”, explica.
Ele reforça que o caminho para quem quer entrar nesse mercado começa cedo. “Hoje temos cursos gratuitos online oferecidos por fabricantes de robôs. Dá para começar a se capacitar com nível técnico ou até ensino médio e, depois, complementar com a formação superior. Muitos robotistas atuam no mercado apenas com especializações em programação.”
O custo da automação
Na percepção de Ferreira, o investimento em tecnologia costuma ser mal compreendido pelos empresários.
“Não existe valor alto ou baixo. O que existe são soluções mal implementadas, que não entregam o retorno esperado. Quando calculamos o payback e mostramos o retorno que a automação traz para a fábrica, o custo deixa de ser custo e vira investimento.”
Para ele, o futuro da indústria brasileira depende da customização de soluções e de uma mudança de mentalidade. “Quando adaptamos a automação à realidade de cada fábrica, reduzimos custos e tornamos o investimento viável. O empresário precisa enxergar que a tecnologia é o que vai garantir competitividade e produtividade para a indústria nacional.”