Por mais que os barulhentos militantes de Lula e Bolsonaro tentem fazer parecer o contrário, o Brasil real parece estar, pouco a pouco, esgotado. E os dados do Datafolha divulgados ontem (18/6) são mais do que uma estatística: são um sintoma. Pela primeira vez desde 2022, petistas e bolsonaristas aparecem empatados, 35% de cada lado. Um empate que mais parece um impasse. E pior: um beco político sem saída.
Não há festa a se fazer aqui. A queda do petismo e o crescimento do bolsonarismo até o ponto de empate não significam avanço democrático, mas sim cristalização de um duelo de rejeições. Lula cai porque governa mal e porque não representa a esperança que inspirou em seus eleitores. Bolsonaro cresce, apesar de sua ficha corrida, porque tem o que Lula não tem: um antipetismo de raiz. Um ganha o que o outro perde. Um sobe quando o outro desce. Não há terceira via, só um carrossel de raiva e rejeição.
O problema é que essa roda não gira mais em favor do país. Ela gira para dentro, centrifugando a moderação, espremendo a racionalidade, esmagando quem quer outra coisa. O centro político brasileiro virou uma planície inóspita. Dos 20% que se dizem “neutros”, muitos estão apenas resignados. Não se veem representados nem por Lula nem por Bolsonaro, mas também não conseguem enxergar, ainda, uma alternativa sólida.
A pergunta que emerge é: como pode um país com 215 milhões de pessoas ficar aprisionado entre dois projetos tão gastos, tão excludentes, tão personalistas, tão populistas?
A resposta talvez esteja menos nos líderes e mais em quem insiste em segui-los como se fossem messias. A democracia precisa de contraponto, não de culto. O lulismo perdeu aquela aura de renovação de outras eleições. O bolsonarismo funciona embalado pelo ressentimento. E esse ressentimento segue alimentado, dia após dia, por um cenário institucional em frangalhos, uma economia desigual e uma elite política que vive de emparedar o Executivo para barganhar no varejo.
Nesse vácuo, o Brasil espera. Espera por uma voz que diga que não é preciso escolher entre o passado e o pesadelo. Alguém que compreenda a fadiga do eleitor, a urgência por soluções e o clamor por normalidade. Que não queira só derrotar o outro, mas vencer para governar.
Por enquanto, o empate registrado pelo Datafolha não é sinal de equilíbrio, é um sinal de alerta e de exaustão. E a democracia, para florescer, precisa de mais que dois pólos se enfrentando: precisa de diálogo, capacidade de escuta dos opostos.
Quem vai se atrever a mudar esse cenário que corrói as estruturas políticas do país?