Com o tarifaço americano de 50% já em vigor desde o início de agosto, diferentes setores econômicos do país se mobilizam para sobreviver ao choque. O Governo Federal prepara um plano de contingência com medidas de apoio emergencial: linhas de crédito subsidiadas pelo BNDES, com fundo garantidor; prorrogação de dívidas; aquisições de estoques encalhados; e até apoio à folha de pagamento.
O objetivo é manter a atividade econômica e preservar empregos na base exportadora. Entidades representativas dos setores exportadores, como Abicalçados, Abimóvel e Abipesca, já reivindicam ações emergenciais, enquanto o governo articula com estados um esforço conjunto. Governadores de São Paulo, Goiás e Minas Gerais, por exemplo, anunciaram suas próprias linhas de crédito subsidiado e recursos locais para socorrer empresas afetadas.
Há ainda estados dispostos a acionar mecanismos extraordinários, como fundos público-privados, para minimizar prejuízos no curto prazo. No entanto, é preciso fazer uma reflexão crítica: socorrer setores em crise é justificável, mas não pode substituir estratégia. Programas emergenciais precisam ser temporários, bem focalizados e acompanhados de uma política comercial e industrial de longo prazo.
Além disso, a eficácia dessas medidas depende não apenas de juros favoráveis, mas também de mitigar o risco de crédito real enfrentado pelas empresas, com garantias estruturadas, seguros de exportação e mecanismos de proteção. Outro ponto que merece atenção é o risco de socialização dos custos. Quando o governo injeta recursos públicos para salvar setores específicos, está, na prática, transferindo ônus para toda a sociedade.
Isso pode ocorrer na forma de aumento da dívida pública, maior carga tributária no futuro ou cortes em áreas essenciais como saúde e educação. É um efeito invisível no curto prazo, mas que compromete a sustentabilidade fiscal e, indiretamente, o crescimento econômico.
Além disso, a utilização recorrente de recursos públicos cria um risco moral: empresas podem se sentir incentivadas a assumir mais riscos excessivos ou manter modelos de negócios pouco competitivos, confiando que, em caso de crise, o Estado intervirá para salvá-las. Esse comportamento reduz a pressão por inovação, eficiência e adaptação às novas realidades do mercado global.
No longo prazo, isso perpetua a dependência de subsídios e enfraquece a base produtiva do país. Em economia, não existe alquimia. Reação emergencial não é planejamento. Socorro sem estrutura estratégica é soprar na fogueira antes do frio — dá alívio momentâneo, mas sem sustentabilidade. O país precisa de resposta rápida, sim, mas também de uma visão clara e compromisso futuro.