A Via Expressa pode ser a primeira avenida de Belo Horizonte a receber uma faixa exclusiva para motos. A proposta, anunciada como um projeto-piloto pelo prefeito Álvaro Damião, parece promissora à primeira vista: reorganizar o trânsito, reduzir acidentes e melhorar a convivência entre veículos, motos e pedestres, é um bom caminho na busca por melhores condições para a desastrada mobilidade da capital.
Porém, antes de aplaudir a ideia, convém examinar seus méritos e riscos com a necessária visão crítica.
Com o trânsito caótico e o número crescente de motos,usadas para agilizar entregas e para a locomoção de pessoas, protagonizando uma quantidade alarmante de acidentes, a proposta da Prefeitura pode, sim, representar uma solução.
Segundo dados do Samu, ao menos dois acidentes com motociclistas são registrados por hora na cidade. É uma estatística que sangra. Mas será que uma faixa azul exclusiva é a resposta certa?
A Prefeitura garante que a escolha da Via Expressa se deu com base em critérios técnicos: alto volume de motocicletas e largura adequada das pistas. Porém, sempre tem um porém, o Código de Trânsito Brasileiro não prevê faixas exclusivas para motos. Existem projetos de lei propondo sua criação em algumas vias, mas nenhum foi aprovado até agora. Ou seja, a proposta depende de um aval federal, da Secretaria Nacional de Trânsito, um trâmite que tende a ser moroso e enroscado na nossa conhecida burocracia. Enquanto isso, o trânsito segue pulsando em descompasso.
O exemplo de São Paulo vale para BH?
São Paulo, por exemplo, implantou motofaixas. Os resultados, embora animadores em certos trechos, ainda são considerados experimentais. Damião, em recente visita à cidade, recebeu do prefeito Ricardo Nunes informações sobre o projeto.
Mas o modelo paulista pode ser simplesmente transplantado para Belo Horizonte? A implantação seria viável em avenidas mais estreitas que a Via Expressa?
Outra questão é a falta de fiscalização eficiente e o comportamento de parte dos motoristas e motociclistas. Os primeiros, muitas vezes, não convivem bem com o pessoal das duas rodas; os segundos, com frequência, ignoram regras básicas de convivência no trânsito. Com esses entraves, nenhuma faixa exclusiva dá conta.
Portanto, a proposta da PBH é, sim, um passo ousado. Pode, sim, sinalizar modernização. Mas também carrega o risco de se tornar um paliativo que, embora bem embalado, pode acabar inócuo se não vier acompanhado de um plano mais amplo: fiscalização ativa, educação no trânsito, requalificação das vias e diálogo constante com especialistas e a sociedade civil.
Motofaixa pode ser um avanço, desde que não se transforme em mais uma linha azul nos caminhos de uma cidade que vive tropeçando nos próprios nós urbanos, difíceis de serem desatados.