Na noite de ontem, o Congresso Nacional, liderado pelo Senado de Davi Alcolumbre e pela Câmara de Hugo Motta, protagonizou um espetáculo lamentável de traição às promessas públicas e aos interesses da população brasileira. Derrubaram vetos do presidente Lula a dispositivos enfiados sorrateiramente no projeto das eólicas em alto-mar.
Jabutis, como se diz em Brasília, aqueles malsinados penduricalhos legislativos que nada têm a ver com o projeto original, mas que carregam bilhões de reais escondidos sob disfarces de tecnicismo e discursos de oportunismo. E o resultado de tudo isso será uma conta de luz que pesará no bolso do brasileiro, algo em torno de 3%. Um presente de grego, embalado em sotaque candango, para as famílias e empresas.
Jabutis sem o charme dos animais que lhes emprestam o nome, mas com o mau cheiro do clientelismo. Custarão até R$ 197 bilhões aos cofres públicos, dinheiro do pagador de impostos, até 2050. Dinheiro que servirá para bancar interesses de grupos específicos do setor elétrico, como a construção de pequenas centrais eólicas no Sul, não por necessidade, mas pela safada conveniência política.
E o pior ainda está por vir. Ainda estão guardados mais dois jabutis, que podem obrigar o governo a contratar térmicas a gás e carvão, fontes de energia suja e cara. Se os vetos a esses também forem derrubados, prepare-se: a conta de luz pode engordar mais 7%. No total, estamos falando de um rombo de R$ 545 bilhões até 2050. Meio trilhão de reais na energia mais poluente, mais ineficiente e menos necessária.
Hipocrisia de um Congresso que grita contra aumento de impostos, que se diz defensor da sociedade contra a voracidade fiscal do Executivo, mas aprova, com a outra mão, um confisco disfarçado no bolso da população, em nome dos lobbies energéticos. Um Robin Hood às avessas: toma dos pobres para dar aos ricos do setor elétrico.
Diante desse teatro de interesses, resta-nos denunciar e pressionar. Não há jabuti que resista à luz da verdade, desde que ela não esteja sendo apagada pelos próprios legisladores.