Semáforos inteligentes: esperança ou desconfiança

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Na teoria, o projeto é um avanço (IMAGEM ILUSTRATIVA/AAAPV/Reprodução)

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O trânsito nas maiores estradas de Minas é uma novela com capítulos repetidos, engarrafamentos quilométricos, motoristas impacientes, buzinas em coro e o velho ritual de perder meia vida entre um sinal vermelho e outro. Pois bem, a Assembleia Legislativa resolveu dar um enredo mais moderno a essa trama.

O Projeto de Lei 2.984/2024, de autoria da deputada Amanda Teixeira Dias (PL), prevê a obrigatoriedade da implantação de semáforos inteligentes em cidades com mais de 150 mil habitantes. A promessa é simples: desafogar o tráfego, reduzir emissões e, de quebra, trazer um pouco de paz ao motorista mineiro.

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Na teoria, o projeto é um avanço. Estamos falando de sistemas que usam sensores e câmeras para ajustar os tempos dos sinais em tempo real, algo que muitas cidades do mundo já adotaram com sucesso. É como trocar um maestro cansado por uma regência eletrônica que entende a sinfonia caótica dos carros e sabe quando o trânsito precisa de mais cordas ou de menos sopros. A ideia soa moderna, sustentável, eficiente, quase europeia.

Porém, sempre existe um porém. Mas, como todo mineiro desconfiado sabe, entre a promessa e o asfalto existe um buraco. Literalmente. O texto do projeto prevê que os municípios tenham até 60 meses para instalar os novos sistemas. Tempo suficiente para três eleições municipais, muitas desculpas burocráticas e, quem sabe, algumas inaugurações de postes pintados de verde e branco com direito a fita e discurso.

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Outro ponto, o Estado promete ajudar com linhas de crédito, suporte técnico e até um banco de dados unificado. Bonito no papel. Mas quem conhece a história sabe que, no fim, o caixa municipal fica sempre no vermelho, e a conta, claro, sobra para o cidadão.

Há ainda a previsão de sanções duras para quem não cumprir: perda de repasses ou linhas de crédito estaduais voltadas à mobilidade. E aqui está a grande interrogação. Cidades já sufocadas pela falta de recursos terão como investir em tecnologia de ponta? Ou ficaremos com um mapa da desigualdade viária, onde as metrópoles implantam a modernidade e cidades médias viram reféns da precariedade?

O projeto caminha na Assembleia, já recebeu parecer favorável em duas comissões e agora segue para a Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária. Se passar, pode inaugurar uma nova fase do trânsito mineiro, menos caótico, mais racional, talvez até mais humano. Mas, como sempre, resta a dúvida. Será que veremos semáforos inteligentes ou apenas mais uma lei supostamente “inteligente” que não sai do papel?

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No fim das contas, a grande lição é que tecnologia, sem gestão eficiente, vira apenas mais uma peça no teatro burocrático. O trânsito precisa de semáforos inteligentes, sim. Mas, antes de tudo, Minas precisa de gestores inteligentes.

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Paulo Leite

Sociólogo e jornalista. Colunista dos programas Central 98 e 98 Talks. Apresentador do programa Café com Leite.

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