O motorista que abastece veículos em Minas Gerais nunca desembolsou tanto para encher o tanque. Os valores médios do litro do etanol e da gasolina são os maiores desde 2001. A média nos postos de combustível do preço do álcool já chega a R$ 5,66. Já o da gasolina ultrapassa R$ 7,60.
Os dados foram compilados pela Rede 98 com base em pesquisa divulgada semanalmente pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O atraso na safra de cana de açúcar, a lei de oferta, e as consequências econômicas da guerra entre Rússia e Ucrânia são apontados como fatores para o aumento.
O preço do etanol disparou no início de 2021, mas o maior índice de alta aconteceu no último mês. Em janeiro de 2021, a média de preço nos postos de combustível do estado era de R$ 3,23. Em Junho, atingiu R$ 4,42, e, seis meses depois, chegou a R$ 5,32. Neste ano, o valor apresentou uma forte alta. Só em abril, o combustível sofreu um reajuste de R$ 0,60.
Os aumentos na gasolina acontecem desde janeiro de 2020, pouco antes do início da pandemia de Covid-19. Dados da ANP mostram que o litro do produto em terras mineiras era encontrado, na média dos postos, por R$ 4,80. Com as medidas restritivas impostas no país, o preço teve uma redução. Em maio, chegou a R$ 4,01. Depois, foram altas seguidas.
No início de 2021, o litro da gasolina era vendido na média por R$ 4,72. Em novembro, atingiu R$ 7,01, e finalizou dezembro sendo comercializado a R$ 6,93. Nos últimos quatro meses mais uma forte alta. Em janeiro, preço do produto chegou a R$ 6,94. Em três meses, sofreu um reajuste de R$ 0,66, e passou a ser vendido a R$ 7,60.
O que dizem os especialistas?
Muitas dúvidas pairam no ar sobre o aumento dos combustíveis, principalmente, em relação ao etanol. O produto seria uma alternativa a gasolina. Mas, vem sofrendo reajustes constantes e, na base de cálculo de relação do preço entre as duas alternativas, a gasolina está valendo mais a pena.
O economista e professor da Skema Business School, Mário Teixeira Marques, aponta o atraso na colheita da safra de cana de açúcar como um dos fatores para o encarecimento. “Estamos no pico da entressafra de álcool. A colheita de cana de açúcar vai começar agora. Então, a tendência é o preço aumentar também. Sem contar, que com o aumento da gasolina muita gente passou a abastecer com álcool. E acabou baixando o estoque regulador que temos no Brasil. Então, são fatores que levam o álcool a ficar tão alto em relação ao passado”.
Para Marques, a expectativa é que os consumidores terão um alívio no bolso ao abastecer os veículos nos próximos dias. “A tendência que até meados e final de maio o valor deve baixar novamente”, explicou.
O economista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ivan Beck Ckagnazaroff, também aponta o lei da oferta e da procura como um dos fatores para a alta do preço do etanol. “Ao aumentar o preço da gasolina, o consumidor buscará a alternativa mais barata que é o etanol. Neste caso, o aumento da procura fará aumentar o preço do produto procurado, no caso o etanol”, disse.
Alta da gasolina
O preço da gasolina é regulado pela Petrobras no chamado “Preço de Paridade de Importação”, desde 2016. Os valores nas refinarias são baseados nas flutuações do preço do barril do petróleo no mercado internacional e no câmbio.
Beck aponta o conflito no leste europeu com um dos fatores para a alta da gasolina. “O que lhe posso dizer é que por fatores externos seja de incerteza ambiental, devido a guerra na Ucrânia, variação cambial, por motivos de instabilidade política interna e a expectativa de aumento de juros nos EUA, devido a inflação lá, você tem uma combinação que afeta para cima o preço do petróleo. Se o preço do petróleo aumenta, aumenta o da gasolina”, comentou.
“Não se pode esquecer que a Rússia é um dos maiores exportadores de petróleo do mundo, entre segundo e terceiro lugar. Diante das restrições comerciais que ela sofre devido a invasão à Ucrânia, o mercado internacional perde uma fonte importante deste produto, em decorrência você tem um fator a mais de aumento do valor do petróleo, devido a diminuição da oferta”, completou.
O economista afirma que é difícil responder sobre a diminuição do valor da gasolina. Porém, especula que não teremos mudanças significativas. “Considerando que o preço é determinado também por fatores que fogem ao controle do governo e que, às vezes, o próprio governo afeta negativamente a confiança sobre a economia e a taxa de câmbio” não vejo que o preço possa diminuir de modo significativo. Se diminuir será algo mínimo, devido a certa consolidação de fatores de custo que foram inflacionados ao longo desse período”, finalizou.
Risco de desabastecimento
O Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do estado de Minas Geras (Minaspetro) alertou sobre o desabastecimento de etanol. Segundo a entidade, a safra da cana deste ano foi prejudicada por questões climáticas e incêndio em canaviais.
Ainda conforme a entidade, a escassez do etanol tem prejudicado também a gasolina, que tem 27% de etanol anidro em sua composição. O Minaspetro destaca ainda a alta do valor do etanol hidratado e anidro, nas usinas produtoras.
O presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos, rebateu a informação do Minaspetro e afirmou que não há risco de desabastecimento.
“De fato a safra 2022 e 2023 está começando com atraso, devido a tudo que aconteceu no ano de 2021, como seca, geadas, incêndios, isso atrasou o desenvolvimento de cana de açúcar. Mas, já temos unidades em produção, número menor do que o ano passado, porém, há produção nova, e os estoques que foram passados da safra anterior para essa são suficientes para atendimento do mercado. Então, não há qualquer tipo de problema para desabastecimento de etanol no mercado”, afirmou.
Campos também acredita em uma redução do preço do etanol nos próximos dias. “Quando observa o preço de mercado já estamos verificando a redução do preço no produtor que poderão chegar às bombas a qualquer momento”, comentou.