Minas Gerais registrou a maior perda em valor absoluto entre os estados brasileiros dois meses após o início do tarifaço imposto pelos Estados Unidos. De acordo com levantamento da FGV Ibre, o estado deixou de exportar o equivalente a US$ 236 milhões em setembro, cerca de R$ 1,2 bilhão, em relação ao mesmo mês de 2024.
O estudo aponta que a retração foi de 50,5% no total das exportações mineiras para o mercado norte-americano, afetando principalmente produtos metálicos e semimanufaturados. As exportações caíram de US$ 466,9 milhões para US$ 231,1 milhões, refletindo tanto os efeitos diretos das tarifas quanto a desaceleração na demanda dos EUA.
Setores mais afetados
A queda mais expressiva está nos segmentos de aço, alumínio, ligas metálicas e produtos intermediários, diretamente atingidos pelas novas tarifas impostas pelo governo Donald Trump sobre bens industriais brasileiros. O impacto se estendeu também a partes e componentes utilizados na indústria automotiva e de transformação.
Segundo a análise, os produtos não isentos, aqueles incluídos na nova política tarifária, foram os principais responsáveis pela retração, respondendo por uma perda de US$ 136,5 milhões. Até mesmo os itens isentos, que em outros estados ajudaram a compensar o efeito do tarifaço, recuaram 51,9% em Minas.
A concentração de bens industriais e semimanufaturados deixa Minas Gerais mais exposto aos impactos do tarifaço do que estados com exportações mais diversificadas.
Comparativo com outros estados
De acordo com o levantamento, os estados do Sul e Sudeste também sofreram quedas expressivas, mas Minas Gerais lidera em valor perdido. Santa Catarina (-US$ 95,9 milhões), Rio Grande do Sul (-US$ 88,8 milhões) e Paraná (-US$ 82,4 milhões) vêm na sequência. Mesmo São Paulo, com uma queda menor em percentual (-7,7%), perdeu cerca de US$ 94 milhões devido à sua base exportadora elevada.
No Nordeste, os estados mais prejudicados foram Alagoas, Piauí, Pernambuco e Rio Grande do Norte, com retrações superiores a 60%. Contudo, como partem de bases menores, as perdas em valor são menos representativas no agregado nacional.
Possíveis causas e perspectivas
Para os pesquisadores, o impacto em Minas Gerais decorre de três fatores combinados: alta dependência de produtos tarifados, logística concentrada em poucos portos e antecipação de embarques antes da entrada em vigor das tarifas. Esse movimento gerou um pico de exportações em julho e uma forte queda nos meses seguintes.
O relatório indica que o “tarifaço” pode provocar efeitos duradouros sobre a arrecadação estadual e o nível de atividade da indústria de base, especialmente se o cenário tarifário for mantido até o fim do ano.
Estratégias e reações
Alguns estados conseguiram mitigar os efeitos negativos ao ampliar a participação de produtos isentos ou diversificar destinos comerciais. São Paulo e Ceará tiveram bom desempenho nesses segmentos, enquanto Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul mantêm perdas duplas — tanto nos produtos tarifados quanto nos isentos.
“Esses resultados reforçam a necessidade de uma política industrial coordenada, com incentivos à diversificação da pauta exportadora e maior presença em cadeias produtivas menos vulneráveis às tarifas”, conclui o estudo.