O presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB), Alfredo Cotait Neto, afirmou que as micro e pequenas empresas brasileiras foram desassistidas diante do pacote tarifário imposto pelos Estados Unidos ao Brasil. Segundo ele, a falta de diálogo do governo federal agravou a situação e deixou o segmento mais vulnerável que as grandes corporações exportadoras.
“Os pequenos não têm essa possibilidade de fazer esse diálogo e essa interlocução. O governo se preocupou muito com os grandes, porque são aqueles que exportam e que trazem divisas para o Brasil”, disse Cotait, em entrevista na 98 News nesta quinta-feira (31/7).
Ele afirma que os produtos exportados por grandes empresas totalizam cerca de US$ 40 bilhões, enquanto as micro e pequenas empresas não passam de US$ 500 milhões, o que representa apenas 1,3% das exportações. Mesmo assim, a exclusão dessas empresas da lista de exceções preocupa.
“Estamos fazendo o levantamento na nossa rede. Temos mais ou menos 4.000 micro e pequenas empresas que exportam para os Estados Unidos. A preocupação é muito grande porque poucas estão na lista e todas vão ser muito impactadas”, disse.
Associativismo como estratégia para reagir
O presidente da CACB defendeu o associativismo como uma das únicas saídas possíveis para enfrentar os impactos do tarifaço e buscar novos mercados.
“O associativismo é a base do empreendedorismo. É uma atividade geradora de renda, onde a pessoa pode aplicar sua expertise de forma independente. Esse é um dos caminhos para que, com o tempo, as pequenas possam buscar novos mercados”, afirmou.
A entidade está mapeando o perfil das empresas afetadas para tentar propor ações práticas. “Estamos identificando o que elas fazem, se participam de alguma cadeia onde o produto final é exportado ou se exportam diretamente. Isso nunca foi feito. A ideia é ver como o associativismo pode ajudá-las”.
‘Brasil ignorou o exemplo americano de cortar gastos’
Cotait afirmou que o aumento de tarifas é parte de uma estratégia interna dos EUA para reduzir o déficit público. Ele criticou o governo brasileiro por não adotar medidas semelhantes. “O presidente Trump entrou com a missão de cortar gastos. O aumento de tarifas é para diminuir o déficit americano. Aqui no Brasil, tínhamos que ter feito a mesma coisa. Estamos passando por cima disso”, disse.
“Faltou compreensão do governo da necessidade de cortar os gastos internos para poder ajudar os pequenos, que são as empresas que mais empregam no país”, afirma Alfredo.
‘Tarifa é absurda, mas faltou diálogo’
O presidente da CACB reconhece que o aumento de impostos por parte dos Estados Unidos tem motivação mais ampla e não se restringe ao Brasil. No entanto, defende que a resposta brasileira foi mal conduzida.
“O presidente Trump não está taxando apenas o Brasil, está taxando vários países. Mas no caso brasileiro, a tarifa é extremamente excessiva. Faltou diálogo do nosso lado. Perderam muito tempo, começaram a conversar só no final”, criticou.
Segundo Cotait, o governo brasileiro deveria trabalhar em duas frentes: negociação internacional e reforma fiscal interna. “Não adianta querer apenas resolver o tarifário. É preciso cortar gastos, diminuir o déficit, reduzir juros. Sem isso, o pequeno continua sendo o mais prejudicado”, disse.