Demanda da China por gelatina coloca jumentos em risco de extinção

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Especialistas estão reunidos em Maceió para debater formas de preservar os animais (Pixabay)

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Animais associados ao sertão brasileiro, os jumentos (Equus asinus) têm uma longa história de relação com os seres humanos. Sua domesticação ocorreu há cerca de 7 mil anos e, desde então, eles têm sido usados para auxiliar o trabalho humano. A tradição cristã, inclusive, atribui ao jumento o papel de carregar Jesus Cristo, em sua entrada triunfal em Jerusalém, uma semana antes de sua crucificação.

A relação entre homens e essa espécie de equino, congênere dos cavalos, fez sua população chegar a milhões, distribuída por vários países, inclusive o Brasil.

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O costume chinês de consumir uma gelatina medicinal chamada eijao – remédio preparado com a pele dos jumentos – representa ameaça à existência desses animais, uma vez que a demanda pelo produto tem crescido ano após ano.

Especialistas estão reunidos em Maceió para debater formas de preservar os animais. Um dos alertas do 3º Workshop Jumentos do Brasil, que termina neste sábado (28/6), é o grande risco de extinção da espécie no país nos próximos anos.

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Segundo a Frente Nacional de Defesa dos Jumentos, de 1996 a 2025, o Brasil perdeu 94% de seu rebanho de asininos, que são os burros, bestas e jumentos.

A preocupação não é nova. Em 2021, um estudo publicado na Revista Brasileira de Pesquisa Veterinária e Ciência Animal, da Universidade de São Paulo (USP), alertou que o Brasil não tem fazendas de reprodução de jumentos e que, no atual ritmo de abate, a população local entraria em extinção.

Em 2024, um relatório da The Donkey Sanctuary, organização internacional voltada à proteção desses animais, mostrou que a demanda por pele de jumentos cresceu 160% de 2016 a 2021. Em 2021, para atender à demanda pelo ejiao, o remédio, foi necessário o abate de 5,6 milhões de indivíduos.

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A estimativa é que a demanda continue crescendo e que, em 2027, serão abatidos 6,8 milhões de jumentos. O comércio, segundo a Donkey Sanctuary, ameaça não apenas o rebanho no Brasil, mas em todo o mundo.

“A situação do Brasil e do mundo em relação ao jumento é assustadora”, resumiu o professor do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da USP Adroaldo Zanella, durante o evento de Maceió. “É uma questão que provoca preocupações no mundo inteiro.”

Danos à saúde do animal
Estudo publicado em março deste ano por pesquisadores brasileiros, no periódico Animals, constatou que o abate para atender à demanda chinesa não só coloca em risco a existência dos jumentos no Brasil como também apresenta situação de prejuízo ao bem-estar destes animais.

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O estudo concluiu que não existe uma cadeia de produção de jumentos no Brasil e que a atividade de criação e abate é dominada pelo abuso dos animais. Estudo feito com mais de 100 asininos constatou que eles apresentam sinais de abandono, má-nutrição e maus tratos.

A organização The Donkey Sanctuary alerta que o manejo e abate, geralmente feitos sem regulamentação ou com pouca preocupação sanitária.

“Todas as vezes que animais são transportados dentro e através de fronteiras nacionais, existe um risco de que esses animais levarão, e consequentemente, espalharão, doenças que são danosas aos humanos (zoonoses) e aos animais”, informa o relatório da Donkey Sanctuary.

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Impacto social

Especialistas apontam que o fim da espécie trará impactos sociais, principalmente para famílias de agricultores familiares que dependem do animal nas plantações.

“[Os jumentos] Atuam em locais de difícil acesso, como lavouras de cacau em pequenas propriedades, mas além de sua função econômica, têm ainda outros potenciais. São, ainda, excelentes animais de criação para companhia, pois, embora sejam grandes, são muito dóceis e inteligentes”, destaca a médica-veterinária Patrícia Tatemoto, que coordena a campanha da The Donkey Sanctuary no Brasil.

Ela acrescenta que a gestação dos jumentos dura 12 meses e o tempo de maturação para o abate em torno de 3 anos, o que eleva os custos para criação em fazendas.

Uma das alternativas para substituir o colágeno medicinal originário da pele do jumento é fabricá-lo em laboratório, a partir de culturas celulares. No entanto, o desenvolvimento ainda está restrito a grandes companhias.

“Estudos já apontam alternativas tecnológicas promissoras, como a fermentação de precisão, capaz de produzir colágeno em laboratório sem a necessidade de exploração animal. Investir nessas inovações é essencial para proteger a espécie e promover práticas mais sustentáveis, inclusive sob a perspectiva socioeconômica”, relata o engenheiro agrônomo e doutor em Economia Aplicada da USP, Roberto Arruda, em nota.

Países como Quênia, Nigéria e Tanzânia adotaram medidas restritivas ao abate dos jumentos. No Brasil, dois projetos de lei tramitam para proibir a matança da espécie para comércio de carne: um na Câmara dos Deputados e outro na Assembleia Legislativa da Bahia.

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