A partir de 2026, os ganhos de capital em operações com criptomoedas, que hoje são isentos, passarão a ser tributados no Brasil. A medida faz parte da estratégia do governo federal para tentar fechar as contas públicas e foi incluída na Medida Provisória publicada nas últimas semanas.
Pela proposta de tributação relacionada às criptomoedas, a alíquota será de 17,5%. Para entender os impactos no setor, a 98 News conversou nesta sexta-feira (27/6) com o investidor e professor de economia Rodrigo Rabelo.
“O Bitcoin surgiu com a ideia de descentralização da economia mundial. Foi proposto por Satoshi Nakamoto em 2008 como resposta à crise imobiliária norte-americana”, explica Rodrigo.
Segundo ele, o mercado global está aquecido, com o Bitcoin cotado em torno de 107 mil dólares, muito próximo do recorde histórico de 111 mil dólares registrado recentemente.
O governo tenta avançar na tributação aproveitando esse momento de valorização, mas a medida gerou reação negativa no mercado. “A criptomoeda por natureza tem mecanismos de fuga de tributação. Para quem entende demais e para muitos investidores, essa taxação vai ser ineficiente por mecanismos tecnológicos”, afirma.
Rodrigo pondera, no entanto, que a medida pode alcançar o pequeno e médio investidor.
“Talvez o governo saiba que o investidor pequeno e médio não tem mecanismos de entender isso, não tem todo o conhecimento para fugir dessa tributação, e pode sim aumentar a arrecadação do governo nesse ramo.”
Além disso, o professor destaca que investir em Bitcoin hoje é muito mais acessível. “Você pode comprar frações. Dá para entrar no mercado com R$ 40, R$ 50 e aos poucos ir capitalizando”, diz. Ele ressalta, no entanto, que é preciso ficar atento a golpes e pirâmides financeiras.
Fuga para o exterior e as DeFi
Na prática, a mudança pode estimular que parte dos investidores busque alternativas fora do Brasil para tentar escapar do novo imposto.
“Podemos ver um efeito rebote, uma falta de investimento nesse setor aqui no Brasil”, afirma. Mas ele lembra que o Bitcoin, por ser global, não depende do cenário brasileiro. “Nada que vai acontecer no Brasil vai afetar muito o Bitcoin.”
Outro caminho são as chamadas DeFi, as finanças descentralizadas. “Com elas é possível comprar o Bitcoin em uma operação apenas e ele some, sem ficar registrado”, diz Rodrigo. “Não é uma recomendação minha, mas é uma possibilidade que existe.”
Bitcoin como reserva de valor
Nos últimos anos, o Bitcoin passou a ser visto como reserva de valor em substituição ao ouro, com países anunciando reservas estratégicas na criptomoeda. Rodrigo destaca o movimento recente nos Estados Unidos.
“O Trump assinou um decreto que colocava o Bitcoin como reserva estratégica de valor, assim como outras criptomoedas”, afirma.
Ele também lembra o caso de El Salvador, onde o Bitcoin já é moeda oficial. “A gente precisa entender porque o dinheiro está perdendo validade. Antes, o dinheiro tinha lastro em ouro. Desde 1973, isso acabou. A partir daí os governos ficaram livres para imprimir dinheiro, o que gerou inflação”, explica.
Para ele, o Bitcoin mantém as características de escassez do ouro, com o diferencial da facilidade de operação digital. “Ele mantém a raridade que foi perdida pelos governos e, ao mesmo tempo, tem todas as características de uma moeda valorizada”, finaliza.
Impacto limitado no mercado global
Na avaliação do professor, a tributação brasileira terá impacto restrito ao investidor local e não deve alterar o cenário global da criptomoeda. “O Bitcoin é um ativo de risco para economias estáveis. Ele tem vida própria”, conclui.